Será que estou pronta?

Publicado em 24/08/2015

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Haha,  parece título de matéria daquelas revistas para adolescentes, mas fiquem tranquilos, não é sobre isso que eu vou tratar aqui. O assunto de hoje é uma breve reflexão sobre lutar  ou não.

Nem passava pela minha cabeça essa possibilidade, até que há cerca de 1 ano, meu treinador Thiago Ferrari me perguntou se eu não pensava a respeito. Eu era bem mais crua, mas fiquei deslumbrada com a possibilidade.

Ele competia pela nossa equipe e eu lembro que em suas pré lutas, e enquanto ele fazia treinos específicos e eu estava no saco com os outros alunos, eu olhava e pensava: “é ali que eu quero estar, não aqui”.

Ele nem sabe o quanto é importante nesse meu processo. Primeiro por ter sido o primeiro a acreditar em mim e segundo, por ter sido uma inspiração.

Independente de lutar ou não, eu só queria ir além do meu limite, nunca estagnar.

Se eu olhar para trás, por todos os lugares que eu passei, a história sempre se repete: nunca me contentei com pouco, sempre quis evoluir.

Em Nova Iorque, na Ultimate Gym, eu quase chorei quando o treinador falou com desdém que eu não sabia nada enquanto puxava aparador pra mim no meu primeiro dia de aula. Respirei fundo, segurei o choro.

Eu tinha a escolha de ir embora ou de não voltar mais, mas no dia seguinte eu estava lá de novo.

Na outra semana, depois de ter passado um fim de semana num festival de hardcore em Chicago, pedi desculpas durante o treino porque eu estava muito cansada. E pior que quando eu ficava muito cansada, me dava muitas saudades de casa. Cara, essa combinação me tirava o foco. Pedi desculpas por treinar mal, e ele falou: “Imagina, prefiro que você venha, mesmo cansada, mas venha.”

Não só estava sempre lá, como no fim de cada aula treinava sozinha um pouco mais.

Duas semanas se passaram e eu precisava deixar a cidade. Aí veio a surpresa.

Kru Nestor, este meu treinador, perguntou se eu não gostaria de ficar em Nova Iorque para ser sua competidora:

“Eu posso te fazer uma campeã, tá vendo aquele cinturão? Posso conseguir um pra você! (…) É hospedagem o problema? Você pode ficar em casa, em troca você apenas tem que treinar duro todos os dias.”

Lembra aquela menina que quase chorou no primeiro dia de aula? É a mesma que saiu cheia de orgulho no último.

Posso não ser a pessoa mais técnica ou mais inteligente, mas eu tenho garra e disciplina. Acho que é isso que eles vêem em mim.

No Sitsongpeenong Muaythai Camp, no começo de um treino, um lutador tailandês me chamou pra conversar:

– Quando você vai lutar?

– Eu? Nunca…

Maluco, ele fez uma cara de indignado:

– Treina, treina, treina pra nada?

Além dos treinos da manhã e da tarde, eu ainda ficava assistindo aos treinos dos tailandeses e treinava força sozinha no fim da tarde. Tanto esforço que o tailandês não conseguia entender o porquê.

Mas quando ele falou “pra nada?”  me veio um estalo.

Eu entendi alguma coisa que eu nem sei se era exatamente o que ele queria dizer, mesmo porque era uma conversa meio monossilábica, e o vazio de algumas palavras que não eram ditas entre uma e outra dava margem para mais interpretações. E, definitivamente, a gente não aprende necessariamente o que os outros querem ensinar.

Enfim, naquela hora fez todo o sentido: Eu entendi que lutar não é fim, é meio, é parte do processo.

Lutar pode ser a finalidade pra muitos, principalmente para profissionais, mas para mim, uma mera praticante, ficou claro que estar no ringue faz parte do aprendizado da arte. Como aprender Muaythai de verdade sem lutar Muaythai de verdade?

Seja para aprendizado da técnica, de estratégia, seja apenas pra subir no ringue e sentir aquela adrenalina e saber como trabalhá-la.

Seja para prestar homenagem aos meus treinadores.

Seja pra honrar minha equipe.

Seja pra saber o tamanho da minha força.

Seja pra me conhecer em uma situação como essa.

Seja…

Seja…

Seja.

Poderia listar inúmeras razões para começar a lutar. Então por isso aqui eu anuncio: Em muito em breve terei  minha estreia!

E durante esse ano, depois que eu decidi lutar, várias vezes me veio na cabeça: “será que eu to realmente pronta?”. Principalmente no fim daqueles treinos que parecem que não renderam nada.

Mas a real é que eu nunca saberei se eu não tentar.

A minha garra e minha disciplina de treinar e aprender continuam, até aumentaram na verdade. Hoje, além da Furions, estou fazendo um intercâmbio na Steel Team com o mestre Ivam Batista.

Aproveito esse post para agradecer a ele e aos atletas que me receberam tão bem! E deixar aqui também meu agradecimento aos meus parceiros de treino por todo o apoio que eles têm me dado desde que souberam da minha decisão.
Aos meus treinadores Thiago Petrin, Thiago Ferrari e Felipe Zayas, meu coração por toda a confiança.

Para quem já luta, desculpe-me se esse texto parece bobo e inocente. Certamente depois de lutar terei mais consciência disso e até melhorarei minhas postagens aqui!

Bom, foi dada a largada!

A verdade é que eu não fico me perguntando mais se eu estou pronta ou não porque não tem uma resposta exata. E lutar não é mais uma escolha, é o “fluxo natural da coisa”.

Que venha essa missão!

🙂

Beijos e boa semana a todos!

na steel team

Iago (futuro competidor da Furions), Mestre Ivam Batista, meu treinador Thiago Petrin e eu

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