2 anos de Muaythai e muito do que tenho aprendido

Publicado em 02/08/2015

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Hoje, 1 de agosto, enquanto muitos aguardam com discussões calorosas e palpites a luta entre Ronda Rousey e Bethe Correia pelo UFC, eu comemoro silenciosamente meu 2º aniversário no Muaythai e na Furions Fight Team.
Não tão silenciosamente porque estou anunciando aqui.

Sabe, esses dias eu li o seguinte depoimento:

“O Muaythai me desafia a ser uma pessoa melhor.
Ficar boa no Muaythai não é tarefa fácil. Horas e horas de treino, lesões, sacrifícios… O que nos ajuda a melhorar é a capacidade de transformar fraquezas em força.
Qualquer pessoa pode mentir para si mesmo dizendo que é bom em alguma coisa. Em muitas outras ocupações ou passatempos, você pode passar sua vida toda sem ser realmente desafiado a ser melhor.
Através dos treinos e das minhas lutas eu tive que olhar para dentro de mim.
O Muaythai me ensinou que eu sempre tenho algo a mais: mais força, mais energia, mais velocidade, mais habilidade.
Eu apenas tenho que acreditar e treinar para isso arduamente.
Eu nunca soube que eu era verdadeiramente capaz até o Muaythai me desafiar a descobrir.”

Imediatamente comecei a pensar o que o Muaythai fez/faz comigo.

Quer um breve histórico? Procurei o Muaythai para melhorar a saúde. Era sedentária, não fazia exercícios há anos. Até os 17 anos eu jogava futebol, tipo 3 horas por dia, todos os dias.

Lembro que nos finais de semana pulávamos o muro da escola que tem na frente de casa e nos dias de semana invadíamos uma quadra aqui perto, sempre no fim da tarde… às 21h, quando nos descobriam, nos expulsavam. Fora jogar nas ruas, tirar contra com a galera dos outros prédios… juro! Eu até que era boa, jogava com os caras e não era nem de longe a última a ser escolhida.

Mas chegaram os 20 anos e outras coisas se tornaram mais interessantes… as artes, os shows de hardcore, a noite… outras prioridades.

Quase nos 30, uma amiga de trabalho fez uns exames. O médico disse pra ela: “você tem que começar a fazer exercícios, urgente!”

Eu, hipocondríaca que era, tomei aquele diagnóstico pra mim e começamos a pensar no que fazer.

“Boxe”, ela sugeriu.

“Por que não Muaythai que também mexe as pernas?”, respondi – Haha, olha como eu era entendedora do assunto!

Dia 01 de agosto de 2013 estávamos lá, fazendo a minha primeira aula e a matrícula.

A primeira lição que o Muaythai me ensinou é que devem existir milhares de coisas por aí que eu me apaixonaria, mas infelizmente não terei tempo e oportunidade de descobrir.

Charles Bukowski em um texto sobre o amor disse “Como pode dizer que ama uma pessoa quando há dez mil outras no mundo que você amaria mais se conhecesse?” – Mais ou menos isso…

Poxa, foi paixão a primeira vista. Se eu nunca tivesse tido aquela conversa com esta amiga, talvez eu nunca descobrisse essa paixão. Lidar com esse sentimento de que não alcançarei tudo foi objeto de muita reflexão sobre escolhas, perdas e experiências.

A segunda coisa que o Muaythai me ensinou foi a percepção do meu corpo. Estava fraca, a perna até tinha uma memória das épocas de futebol, mas os braços, ombros e abdomens não serviam para nada. Perceber o meu corpo mudando de acordo com o trabalho executado era muito mágico: emagreci sabe lá quantos quilos, chutaria uns 15. Os músculos começaram a surgir, meu corpo começou a ficar mais forte e “me obedecer”.

Porque não era a mesma coisa entender na cabeça que o movimento tá errado e tentar consertar no corpo. A mensagem saía do cérebro claramente: “Gira o pé”. Mas ele não girava. “Põe o quadril”, mas não tinha jeito! A mensagem que seguia pelo corpo era interrompida em algum lugar antes de chegar no quadril. O corpo não entendia, devia estar adormecido.

Me lembra um pouco a Beatrix Kiddo em Kill Bill tentando acordar seu dedão. Paciência, levou tempo para estabelecer essa conexão corpo – mente.

Então posso afirmar: conhecer o meu corpo, até isso o Muaythai me ensinou.

Além de me apresentar meu corpo, o Muaythai foi responsável por me apresentar um eu que eu até conhecia, mas ficou mais aparente: Aquela menina que pensa: “eu posso, eu faço”. Hey, deixarei claro: nem vem achando que tem a ver com ser filhinha de papai que quer e tem tudo.

Agora, na verdade, é a hora de voltar a aquele depoimento. O Muaythai me mostrou que se eu quero, eu posso. Tem a ver com garra.

Trabalho arduamente de 5 a 6 dias por semana, as vezes 2 vezes por dia pra ser melhor do que o dia anterior. Certo dia lesionei feio meu joelho. Mas no dia seguinte eu estava lá na academia para sim, tentar ser melhor. Costela inflamada? Não é problema, eu não consigo imaginar perder um dia de desenvolvimento e aprendizagem.

Uma vez um lutador (não lembro quem, gente! Desculpa!) disse que a única hora do dia que seu corpo não doía era na hora do treino. Achei forte – e precioso.

Minha vó que eu tanto amava faleceu há pouco. No mesmo dia eu estava lá derrubando lágrimas e tentando entender o porque dela ter partido enquanto encaixava jabs, diretos, chutes, joelhadas e cotovelos no saco de pancada.

Quanto mais forte eu bato, mais forte eu fico.

Quanto mais eu observo, mais eu entendo.

Quanto mais desafiada eu sou, mais eu reflito.

Quanto mais eu me testo, mais eu me conheço.

Quanto mais longe eu afasto o limite, mais longe eu vou.

Isso é muito do que o Muaythai me ensinou, muito além do que aprender golpes. É poder conhecer a si mesmo, é conhecer a vida, as relações.

Eu estou longe de ser boa, mas eu posso pelo menos dizer com orgulho que eu estou seguindo o meu caminho.

E o melhor, nunca sozinha.

Porque outra coisa que o Muaythai me ensinou é que existem muitas pessoas maravilhosas nesse mundo. E o mesmo tem me proporcionado a conhecer muitas delas.

Brindemos!

Mais desafios estão por vir! 🙂

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