Coleção de mensagens pós derrota

Publicado em 01/12/2015

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Eu posso precisar de terapia pra muitas coisas, mas pra descobrir que eu sou confusa não. As batalhas de Muaythai já tem me mostrado isso.

Falei sobre a confusão de sentimentos que senti na minha estreia nos ringues, certo? Agora aconteceu o mesmo na minha primeira derrota.

Marcamos essa luta há cerca de 4 meses, era pra ser a minha estreia no Muaythai. Desde então, tudo que fazíamos era com foco nesse tão esperado dia.

Paula Japa #luta04

Foto: Mário Palhares. Cortesia Steel Team e Foto Pelea

Paula Japa #luta04

Foto: Mário Palhares. Cortesia Steel Team e Foto Pelea

Planejamos como parte da preparação fazer apenas uma luta nas regras de K1, mas começaram os boatos que a oponente era muito experiente. Isso nos fez correr atrás de outras 2 lutas, uma delas com insistência minha (eu já estava no vício de querer lutar toda semana).

Mas, realmente, esta luta no Portuários Stadium, no dia 22 de novembro de 2015 foi a mais dura e, além disso, a primeira num evento de porte tão grande. Declarei que a sensação foi realmente de que eu estava estreando.

Isso porque foi a primeira vez que precisei lutar os 5 rounds e que senti a dor de uma pancada de verdade.

Sabe, meu corpo sentiu a dor, e minha mente até poderia decidir não querer continuar. Digo isso porque Muaythai não é ou não era um projeto na minha vida, está longe de ser minha fonte de renda. Aliás, muito pelo o contrário, é exatamente onde eu gasto o dinheiro que eu ganho numa carreira que estou construindo há 13 anos. A minha relação aqui é diferente, é por prazer e não por ‘obrigação’. Mas mesmo assim, desistir no meio da luta nunca foi uma opção.

Mesmo com a dor, outra coisa aqui dentro me mandava seguir. Talvez seja o que chamam de coração por aí.

Paula Japa x Bruna Ramires

Foto: Mário Palhares. Cortesia Steel Team e Foto Pelea

Paula Japa x Bruna Ramires

Foto: Mário Palhares. Cortesia Steel Team e Foto Pelea

Paula Japa x Bruna Ramires

Foto: Mário Palhares. Cortesia Steel Team e Foto Pelea

A luta acabou e a confusão de sentimentos se fez presente. Fiquei muito triste pela derrota, mas ao mesmo tempo feliz e orgulhosa de mim mesma por ter concluído a luta. Em questão de segundos a tristeza passou e só fiquei feliz.

Depois, o que passou foi a euforia, e eu só fiquei triste.

No dia seguinte então, eu chorei o dia inteiro. Na verdade, perder é uma merda.

Bruna Ramires

Foto: Mário Palhares. Cortesia Steel Team e Foto Pelea

Não vou me alongar aqui. Todo mundo sabe que perder é ruim. Se você já perdeu, sabe do que tô falando. Se você ainda não, se um dia perder, saberá. Agora, se você nunca competiu em nenhuma modalidade (e digo até não esportiva) e nunca passou por isso, imagine apenas. Todo mudo treina e dá seu melhor pra nunca perder, porque sim, perder é uma merda.

Mas a questão que quero tratar aqui não é essa. E nem sobre a importância da derrota para nos tornarmos mais fortes e melhores, outra verdade que dizem por aí.

A gente aprende muito mais na derrota se formos humildes o suficiente para olharmos nossos erros e termos garra para tentar corrigi-los. O sentimento da derrota é tão ruim que certamente te impulsiona a querer fazer melhor pra não passar mais por isso.

Mas o objetivo desse post é falar sobre outra coisa: Por que mesmo com sentimentos tão aflorados em mim, confusa, com o orgulho ferido, minha primeira preocupação era de me desculpar com os outros pela minha derrota?

Eu percebi isso ao constatar que vários outros atletas que perderam em eventos no mesmo fim de semana e no seguinte (Paulista amador da FEPLAM, Top Thai e Sip Sam) publicaram suas desculpas em redes sociais.

Foi quando arregalei os olhos e me dei conta que foi a primeira coisa que eu quis fazer: desculpar-me com meu treinador que se doou tanto e confiou muito em mim.

Desculpar-me com o Ivam Batista que topou fazer meu camp e fez da melhor forma possível.

Desculpar-me com meus parceiros de treino da Furions e da Steel Team.

Desculpar-me com a minha família que foi pra Santos apenas para assistir à minha luta em um domingo de fim de feriado.

E para vocês terem uma ideia, eu até pedi desculpas para um cara que eu não conhecia e que estava dividindo o ônibus com a gente nos trechos São Paulo – estádio – São Paulo.

Fiquei pensando se isso é fruto de uma herança cristã que carregamos junto com o sentimento de culpa, sabe? Fiquei curiosa de saber qual a relação real dos tailandeses com a perda, se é diferente por ser outra cultura, ou se esse sentimento é nato do ser humano.

Mas para além dessa primeira hipótese, continuei a refletir sobre isso e logo me lembrei de quantas mensagens de apoio eu recebi após a derrota, inclusive (assim como o cara do ônibus) de gente que eu não conhecia.

Parece-me que tudo é uma relação de expectativa e confiança. O quanto depositam na gente e o quanto queremos fazer pelo outro.

Acredito que a gente se desculpa com o outro porque o outro também se preocupa com a gente. Foi assim que abri uma coleção de mensagens pós derrotas (que espero, francamente, que não cresça muito mais não), pelo carinho e por tantos pontos importantes para refletir sobre. Se perder faz parte da trajetória e nos faz crescer eu não tenho mais dúvidas. É muito mais fácil olhar para os erros numa derrota que numa vitória. Mas perder também te faz olhar quem tá nesse caminho com você!

Devido a gentileza das pessoas, e dizem que gentileza gera gentileza, gostaria de compartilhar parte desta coleção com vocês para que sirva de reflexão pra quem precisar ou quiser refletir.

Porque elas parecem todas “clichês”, mas na verdade são todas verdadeiras. Tanto é que a grande maioria delas foram ditas por gente mais experiente a fim de transmitir seus aprendizados para esta que está apenas começando. E é lindo isso.

Pensei se eu nomeava os autores das frases, mas deixei no anonimato. Se você se identificar e quiser os créditos é só me pedir! 😉

No fim, um vídeo sobre esta quarta luta. Se tiverem 15 minutos sobrando, assistam!

Coleção de mensagens pós derrota

“Chora não.
No Muaythai não tem essa de perder ou ganhar, às vezes não estamos no nosso dia e acaba que a gente perde. Mas não porque somos ruins, porque a pessoa foi melhor mesmo.
No Muaythai a vitória é consequência. O que realmente importa é fazer boa luta.
Ninguém gosta de perder, mas perder é preciso.
É somente na derrota que você consegue ver falhas, ver o que pode melhorar e saber que todo mundo perde.
Perder não faz você melhor ou pior que ninguém, não tem que ser melhor que a outra garota.
O lutador de Muaythai é o cara que mais sabe entender a vitória e a derrota.”

“No dia que você se acomodar com a derrota, pode parar. É obvio que elas, como já tenho dito, faz parte da caminhada de um atleta, mas você foi guerreira, lutou muitíssimo bem, representou bem a sua equipe. Com certeza seu treinador e seus parceiros(as) de treino estão orgulhosos do seu desempenho.”

“Apesar da vitória não ter sido confirmada pelo juízes, você já é vencedora.”

“Você é uma guerreira nata, Japa! Daquelas para quem a derrota é aprendizado e não entrega! No Muaythai ou na vida, essa é a postura para se tornar um vencedor!”

“Perder é o caminho pra se melhorar, pra ser humilde. Sabendo que pode ganhar mas algumas vezes pode-se perder.”

“Mais importante que a vitória são as ‘munições’ em forma de experiência que irão agregar – e muito – para as próximas batalhas. Você tinha o armamento, agora tem as munições!”

“Desistir Jamais! Filha, só não perde quem não luta!

“Faz parte da caminhada, com certeza você amadurece como atleta. Parabéns pela coragem e continue nesse caminho que muitas vitórias virão.”

“Todo guerreiro sabe que numa luta se pode ganhar ou perder, mas o que interessa mesmo é a luta em si e o aprendizado que isso traz.”

“Japa, lutador não luta por vitória, luta por cartel.”

“Independente do resultado final, a mais bela vitória é conseguir vencer a si mesmo. Tem que ter muita coragem, força de vontade, coração de guerreira pra subir lá e dar o seu melhor.”

“Às vezes você vai sentir essa sensação de “poderia ter ido melhor”. Isso é normal. Nesses momentos que a gente ganha experiência.”

“Oh japa, não vivemos só de vitórias, e é nas derrotas que podemos ver o nosso outro lado de lutador; ganhar todos querem mas quando vêm a derrota muitos desistem… e sei que não é seu caso, agora é baixar a cabeça e trabalhar mais ainda o corpo e a mente!!!”

“Quando caímos, temos 2 opções: Manter-se ali no chão, entregue a derrota, desperdiçando todo treinamento, aprendizado, conhecimento, experiência adquirida ou levantar-se e treinar para melhorar e sempre dizer pra si mesma que conseguirá conquistar seus objetivos!”

“Orgulho, Paulinha! Algumas vezes perder também é ganhar.”

“Ficou triste? Muito bom! Quer dizer que tem orgulho.”

“Não existe perder, Paulinha. Existe APRENDER…”

“Derrota não, Japa. Experiência.”

Um beijo, gente.

Obrigada por tudo!

Um beijo, Bruna (Ramires, minha oponente).

Obrigada também!

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