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A valorização do atleta na atualidade Pt 2 – Entrevista com Fabaum Damasio (Portuários Stadium)

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Publicado em 10/11/2016

Fala, galera!

Sigo com a série de entrevistas que tem como intenção discutir a valorização dos atletas na atualidade.

Hoje, daremos voz ao Portuários Stadium, o primeiro estádio de Muaythai no Brasil.

O Portuários, localizado em Santos – SP, teve seu início em fevereiro de 2015 e conta com 3 promotores responsáveis: João Fernandes, Fernando Andrade e Fabaum Damasio. Este último bateu um papo comigo sobre as mesmas questões que discuti com Diogo Bernardes neste post.

Lembrando que ainda teremos outros 3 entrevistados sobre este mesmo tema: Marcelo Calegari da FEPLAM (São Paulo), Gabriel Matoso do Litorânios Stadium (Natal) e Adriano Souza  do Attack Fight (RS). Fiquem ligados! 😉

fabaum

Blog da Japa: Qual a maior preocupação quando você planeja um evento?

Fabaum Damasio: A maior preocupação é valorizar os atletas e ao mesmo tempo que o público saia satisfeito.

Eu trabalho com evento desde 2006 quando eu fazia o Show Thai, que foi o primeiro evento da baixada santista nas regras, e a minha preocupação sempre foi tratar bem os atletas em todos os sentidos, não só financeiramente, mas também fazer com que o público saia satisfeito.

Eu sou daqueles que sempre quero montar lutas boas. Claro que hoje nós dependemos de público. Então, sempre tenho que colocar no card algumas lutas que tragam publico também. Mas eu sempre tento manter um equilíbrio: Ao mesmo tempo que aquele atleta atrai publico que também faça uma grande luta.

BJ: Qual a maior dificuldade que você encontra para executar o planejamento do evento?

FB: No caso do Portuários, nós não contamos com verba pública, verba da política. Nós dependemos única e exclusivamente da bilheteria.

E nós fazemos 2 eventos por mês, e isso é muito difícil, muito complicado. Complicado pra tudo, tanto financeiramente, quanto na parte de logística. Na parte de montar card é muito mais difícil 2 eventos para você pensar por mês.

Quer dizer, a gente está fazendo o evento agora de novembro, mas ao mesmo tempo eu já estou pensando no evento de dezembro e nos dois primeiros do ano que vem porque a gente não pode perder tempo. É assim: trabalho todo dia olhando o hoje e o amanhã.

BJ: Como o Portuários pensa a bolsa de um atleta?

FB: Os atletas do card preliminar ganham porcentagem dos ingressos que vendem. Na realidade, hoje a situação é bem diferente da de antigamente. Antes os atletas pagavam para lutar. Pagavam inscrições altas, lutavam longe. Hoje nós temos um evento por semana e os atletas amadores ainda ganham para lutar. Então acho que nesse ponto melhorou bastante.

Quanto aos atletas profissionais, infelizmente, a gente ainda tem um longo caminho aí para trilhar. Muito pela crise econômica do país, como eu falei, hoje fazemos 2 eventos por mês, fora vários outros que acontecem na baixada ou no Estado de SP. O público não tem dinheiro para assistir a todos os eventos, então alguém sempre acaba se sacrificando, alguém sempre acaba se desfavorecendo nessa.

Está muito longe ainda de pagar o que eles merecem. Hoje, infelizmente, até com os atletas profissionais estamos adotando o sistema de ingressos para complementar a bolsa deles.

Hoje, o evento de luta é um motor que trabalha com várias engrenagens, e se uma engrenagem falhar, falha o evento todo.

O atleta também é peça fundamental no evento, não só para lutar, mas também para vender a sua imagem, ajudar a manter os eventos.

Se os atletas não se encaixarem nesse sistema hoje, infelizmente, muitos eventos vão parar no meio do caminho porque a situação está difícil.

A não ser quem faz 1 ou 2 eventos por ano, porque aí você tem vários meses pra correr atrás de apoio e patrocínio, pensar o card. Agora pra fazer igual a gente que faz, 2 eventos por mês, não é fácil não.

BJ: Você sempre consegue pagar o que acha justo?

FD: Com certeza a gente não paga o que a gente gostaria. Estamos muito longe disso ainda. Como falei, hoje nós dependemos da bilheteria. Os apoios que nós temos são pontuais que pagam alguma coisinha, mas o grosso dependemos da bilheteria.

BJ: Se não, pensa em outra forma de valorizá-lo? Como? Quais?

Com certeza, isso é uma coisa que eu sempre me preocupei em todos os eventos que eu ajudei a organizar. Valorizar muito a imagem do atleta. Se a gente não pode pagar o que eles merecem ganhar, acho que temos que valorizar muito a imagem porque isso é também muito importante para a carreira deles.
Então no Portuários, o que nós fizemos? Adotamos o sistema de ranking de cinturão, bem aos moldes do Lumpinee e isso chama muita atenção dos atletas. Fica aquela competição, os atletas querem participar, querem subir no ranking, querem ter a oportunidade de disputar um cinturão. Isso acaba também ajudando a valorizar o atleta.

A parte visual também é muito importante, temos a nosso departamento de marketing aqui que é o Bruxo e a Letícia que fazem e valorizam muito essa parte visual dos atletas: cartazes e essas coisas todas.

O atleta tem que estar sempre na mídia, ser sempre mostrado e valorizado. É aquele negócio, né, quem não é visto não é lembrado e aqui no Portuários, todo mundo sabe com muita antecedência quem vai lutar, quem já lutou e quais foram os resultados*.

* Observação minha: O Portuários também sempre disponibiliza com rapidez as lutas em seu canal do Youtube.

Um desabafo, o que acaba atrapalhando muito o trabalho da gente são os falsos profissionais, muita gente que gosta de fazer evento só para aparecer ou visando apenas lucro.

E isso acaba atrapalhando muito quem trabalha sério. Tem muitos que estão no mercado que a gente chama de moleques, aventureiros. Aqueles que estão fazendo mais para aparecer. Querem aparecer mais que o evento.

Quem tem que aparecer é o evento, são os atletas. Eles que são os artistas.

Os atletas têm que estar acima de qualquer promotor, de qualquer coisa.

Além de fazer eventos desde 2006, há 10 anos, também trabalho como manager de atletas de Muaythai e MMA, e posso afirmar que essa crise não é só no Brasil. É uma crise praticamente mundial.

Há anos atrás já cheguei a mandar atletas para lutar em países tanto na América do Sul quanto na Europa e hoje tá muito difícil isso por causa do aumento do dólar.

Hoje são poucos eventos no exterior que pagam passagens para o atleta.

Se for analisar, acho que 80 % dos eventos, tanto de Muaythai como de MMA, só estão levando atletas que tem patrocínio para bancar suas passagens. E antes era muito mais fácil mandar atleta lutar no exterior.

Trabalho com MMA também, e até uns 2 anos atrás, qualquer lutador de Muaythai pensava em migrar para o MMA. Hoje os principais eventos, tirando o Jungle Fight que tem ajuda pública e é o único evento que está pagando o atleta em dinheiro. E mesmo assim pouco. Qualquer outro evento, mesmo grande evento, está pagando em ingresso. A maioria está pagando integral em ingresso. Se sua bolsa é 1000 reais, e o ingresso custa 20, eles te dão 50 ingressos para você vender e aquilo vai ser sua bolsa, entendeu? Então acabou aquele sonho que lutador tem que migrar pro MMA para ganhar dinheiro.

BJ: Mesmo com as dificuldades, vocês pensam em manter 2 eventos por mês no ano que vem?

FD: Vamos manter 2 eventos por mês, e assim, a gente ainda não discutiu o calendário, mas é quase certeza que daremos mais ênfase para o Super Girls* (eventos que conta apenas com lutas femininas).

É difícil? É.

Mas o fato de hoje em dia termos um estádio, facilita e muitos planos que a gente tem, a gente quer colocar em prática. Todos os meses com Portuários Stadium e o segundo evento do mês, a gente vai revesar entre Super Girls, Super Talents, Thai Kids e Thai-1 Santos Max.

O Thai Kids e o Thai-1 Santos Max já existiam antes do estádio ser inaugurado, mas no ano passado a gente viu que tinha necessidade no mercado de ter um evento só feminino, que não tinha, e um evento somente para a galera que está começando, que é o Super Talents. Porque nos eventos, geralmente, a galera gosta de dar chance para aquele cara que já tem nome e não vê a galerinha que está começando, né? E tem muita galera que começou no Super Talants e já está lutando no Portuários ou em outros eventos bons por aí.

Então é uma forma da gente revelar atletas também. Por isso que a gente se viu na necessidade de fazer 2 eventos por mês…

É difícil, é trabalhoso, mas no fim compensa. É aquele stress gostoso de ter, entendeu?

Entendi, Fabaum! 🙂
Muito obrigada pela entrevista!

Espero que tenham gostado. E no próximo post, Adriando Souza, responsável pelo Attack Fight de Rio Grande do Sul divide seu pensamento com a gente.

Em breve, Marcelo Calegari da FEPLAM (São Paulo), Gabriel Matoso do Litorânios Stadium (Natal) e aqui você encontra a entrevista com Diogo Bernardes do Heart of Fighters.

Um beijo a todos,

Japa.

 

Quem publicou?

Rapha Ribrodi

Administrador & Fundador do AcervoThai, ex-lutador profissional, desenvolvedor web e consultor de dados. Migrou para a Tailândia em 2012, morou em Bangkok, Phuket, Ubon Ratchathani, Chiang Mai e Pattaya. Com mais de 10 anos no país de origem do Muay Thai, Raphael lutou nos principais estádios e eventos na Tailândia. Com mais de 60 lutas pela Ásia, ele se dedica a divulgar o esporte no Brasil, para ajudar a nova geração de lutadores brasileiros.
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