Conheça o Wai Kru Ram Muay praticado no Muaythai
Todo lutador tem por obrigação conhecer a prática do wai kru ram muay e seu sentido aplicado ao ringue. Não se usa a palavra Arte em vão, todo o conjunto de técnicas envolve filosofia e crenças milenares.
Mas antes de explicar a prática em si, vamos as definições:
Wai = Ação de unir as mãos como em prece para mostrar respeito/agradecer
Kru = Podemos traduzir como professor/treinador
Ram = Antigo estilo tradicional de dança tailandesa
Muay = Luta/lutar
No Ocidente estamos acostumados com o sistema de academia padrão, você entra, paga e começa a treinar, mas no Oriente durante muito tempo não era tão simples. Você era apresentado ao Professor e prestava respeito a ele. Era comum oferecer flores, comida, velas perfumadas ou algo que lhe fosse de valor. Após essa aceitação o aluno começava seu treinamento básico na Arte focado na disciplina, respeito e técnica. Dessa tradição temos o que hoje é conhecido por Ram Muay Wai Kru.
Ela reflete diretamente a origem e região do seu campo de muaythai, as crenças do local e do seu professor, com a intenção de mostrar as raízes que construíram suas crenças.
O RITUAL DENTRO DA LUTA
O lutador percorre o ringue com sua mão direita tocando as cordas como forma de selar o ringue. Nos 4 cantos faz uma breve parada e realiza uma prece. Se dirige ao centro do ringue se ajoelha e se curva por 3 vezes em sinal de respeito. Dentro da crença budista esse 3 sinais são para Buddha, Dhamma (ensinamentos) e Sangha (comunidade). Porém dentro do muaythai esses 3 sinais também são aceitos para o professor, a família e ao seu País.
Assim o lutador executa o Ram Muay, que possui variações das mais simples as mais complexas, o Ram Muay é pessoal, desenvolvido pelo lutador, campo de treino ou treinador. Ele demonstra equilíbrio, calma, técnica e de forma simbólica pede proteção na “batalha” que irá começar.
Todo o rito é seguido de música (Sarama), e todo lutador usa seu Mongkon na cabeça para simbolizar seu campo, seu professor e seu local de origem. Antigamente a posição do mongkon indicava de qual região do País o lutador era; Norte, Central ou Sul.
É de grande importância que todo praticante de Muaythai busque conhecer e aprender o Ram Muay Wai Kru, não apenas como forma de arte e tradição mas servirá muito bem para acalmar e fortalecer a mente antes da luta.
A prática do Wai Kru Ram Muay não está atrelada apenas ao praticante de budismo, hoje em dia é comum lutadores de outras crenças utilizarem esse momento para expressar sua fé. Alguns utilizam um crucifixo no mongkon, outros possuem um colar de contas (umbanda/candomblé) no pescoço junto ao Phuang Malai entre outras demonstrações. O principio da prática é mostrar respeito ao seu treinador, ao seu campo e expressar sua crença dentro do ringue de forma respeitosa e pedir a benção e proteção necessária para lutar e votar para casa em segurança.
SENTIDO HORÁRIO – SENTIDO ANTI HORÁRIO
Existe uma discussão a respeito do sentido que o lutador irá caminhar dentro do ringue, horário ou anti-horário? Bom, devemos conhecer o conceito chamado Pradaksina. Conceito anterior ao budismo, já era citado nos Vedas, antigos textos da cultura Indiana. A prática consiste em andar em volta do mestre ou de um abjeto sagrado no sentido horário.
Ananda discípulo de Buda, circulava seu mestre 3 vezes, se ajoelha, descobre o seu ombro direito e o saúda com uma reverência. Mas por que sentido horário? Porque na Índia desde tempos imemoriais até hoje, a mão direita representa o puro, é a mão com que se come, oferece incenso, já a mão esquerda era considerada impura, pois sua função é/era se limpar.
Algumas outras correntes de pensamento filosófico-místico correlacionam a mão direita com o caminho da alma (espiritual) e a mão esquerda com o caminho mundano (terreno).
Porém há treinadores tailandeses que optam pelo sentido anti-horário, mas porque? A suástica budista, chamado no Japão de Manji (万字) é considerado um dos símbolos religiosos mais antigos que existem, está presente em culturas como Hindu, Celta, Grega, Judaica, Nórdica, Budismo, Jainismo, Sikhismo e Taoísmo. O nome “suástica” é derivado da palavra sânscrito (língua ancestral da Índia) “Savstika“, que basicamente significa “bem-estar”.
Templo Budista Japonês
Os 4 braços ligados a estes eixos para representar o movimento, a Força girando criado pela interação dos elementos, Eles também apontam 4 direções, que representam as quatro vedas, as quatro escrituras sagradas mais antigas da história na qual ensinam a filosofia da vida ensinada por Deus.
O símbolo Manji (suástica), quando virado para a esquerda Omote (frente), representa amor e misericórdia. quando virado para a direita Ura (parte traseira) representa força e inteligência. Talvez a intenção de andar no sentido anti-horário faça justamente referência a esse conceito.
Suástica Budista
A suástica do partido alemão adotado em 1920 se tornando o símbolo do nazismo, nada tem a ver com as crenças descritas aqui, o símbolo nazista possui uma inclinação de 45º e um circulo em volta do símbolo. Seus motivos e criação tiveram um outro propósito.