Muito se fala sobre “mestre” no Brasil, seja de muaythai, Ballet ou bafo, sempre há um mestre. Após o termo cair no senso comum, dentro do muaythai foi adotado “Kru” para treinador/professor e “Arjan” para Mestre, Grão-Mestre ou Supremo Senhor do Muaythai.
Vamos a verdade; a palavra “Kru”, em tradução livre quer dizer “professor”, seja ele de qualquer área, matemática, ciências, e arte marcial. “kru” define simplesmente um professor.
Duvida? Vamos deixar uma tailandesa lhe explicar então:
A origem da faixa preta nas arte marciais
Sensei Jigoro Kano ( 28 de outubro de 1860 — 4 de maio de 1938) pensando em disseminar a arte do Judô para civis, criou um padrão de ensino baseada em cores. No ano de 1882 no mês de Fevereiro fundou a escola Kodokan, tendo apenas 20m², recebeu seus primeiros alunos em Junho do mesmo ano.
Inicialmente haviam apenas duas cores, Branco (iniciante) e Preto (avançado). É creditado a Mikonosuke Kawaishi a criação em 1935 das demais cores.
Mito: É dito que a faixa preta surgiu devido ao aluno usando sua faixa branca após anos de treino e sem lavar sua faixa ela ficaria desgastada e suja. Mas isso é um mito.
Importante lembrar que até o final da 2ª Guerra Mundial as artes japonesas não eram ensinadas a estrangeiros. O bujutsu (arte militar japonesa) era praticada apenas por militares, esse decreto caiu na Restauração Meiji (1868–1945). Portanto o acesso as artes marciais era bem restrito até o final da segunda guerra mundial.
A ideia central é que as faixas foram criadas para sistematizar a arte marcial, já que agora ela era ensinada para civis, homens, mulheres e crianças. Anterior a essa criação, as faixas eram usadas apenas para segurar o quimono. As qualidades dos lutadores eram atestadas por certificados carimbados pelo Dojo (academia) e seu representante máximo.
Lamentavelmente a 4 de maio de 1938, morre Jigoro Kano de problemas pulmonares, a bordo do transatlântico “Hikawa Maru”, quando voltava do Cairo, onde havia presidido a assembleia geral do comitê internacional dos jogos olímpicos.
Os conceitos reais de Kru e Arjan
Já falamos aqui sobre dentro do muaythai profissional não haver graduação, isso é um fato. Há instituições que certificam professores e treinadores na Tailândia, ok. Mas são pessoas com mais de vinte anos trabalhando dentro do esporte. São profissionais que treinam campeões, lutadores de elite e coordenam campos há anos.
O termo Arjan define um professor com maior experiência, que possui anos dentro da área, mas não “mestre”. Essa estrutura de graduação muito usado no Judô, Tae-Kwon-Do, Karatê ou Kung-Fu, não existe dentro do Muaythai.
Atualmente na Tailândia entidades ligadas ao Muaythai Amador realizam graduação, assim como entidades ligadas ao Muay boran. Porém não há ligação alguma com o esporte em sua âmbito profissional.
Entidades como WBC (Conselho Mundial de Boxe) – WPMF (Federação Mundial de Muaythai Profissional) e WMC (Conselho Mundial de Muaythai) não reconhecem graduação, assim como não há nada semelhante nos campos de muaythai ou nos Estádios.
Na Tailândia o próprio termo “Kru” é pouco usado, salvo exceção, campos com foco em estrangeiros como Tiger Muay Thai e Fairtex adotam o termo.
Não que haja mal em chamar alguém por respeito assim, o problema é alguém usar um pedaço de papel dizendo “Kru José” e impor as pessoas que o chamem assim.
Mas ai eu lhe pergunto; o que essa pessoa fez para o Esporte? Para seus atletas? O que ela realmente entende do Muaythai? O ”mestre” entende toda a história, cultura e tradição do esporte? Sabe explicar sua formação? O chupasart, a relação com budismo, a construção da regra pós segunda guerra mundial?
Se ele não sabe, ele não é um Mestre, é só um zé ruela roubando seu dinheiro. Certa vez John Wayne Parr disse:
Eu nunca irei me chamar de “kru/Arjan”, é uma ofensa! Sou apenas um cara branco tentando fazer o melhor possível.
Fonte de pesquisa: Mestres – Arjans – Kru e a verdade (inglês)