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A verdade sobre ser um lutador

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Publicado em 30/10/2016

Li este texto original em inglês no blog da Mel ‘Diva’ Downs, uma lutadora da Nova Zelândia, e achei que merecia uma tradução no Blog da Japa.
E, como qualquer tradução, há transformação. Se vocês forem ao original, perceberão que adaptei algumas coisinhas. Mas a ideia é a mesma.
Enfim, a real é que pra quem está de fora, a vida de um lutador pode parecer mais fácil ou simplesmente glamourosa. Afinal, quem percorre numa passarela com show de luzes e com uma trilha de sua escolha até o ringue?
Mas posso te garantir que para este que percorre, a opinião é bem diferente.
Isso porque desde que uma luta é marcada até a entrada do lutador no ringue não há holofote que destaque essa experiência.

Para mostrar este momento pré luta, segue um texto que pode ajudar a mostrar as dificuldades que lutadores passam em suas carreiras, caso estes queiram ser vencedores.

Não há vida social

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Há lutadores que lutam de vez em quando e conseguem manter uma vida social saudável.
Mas aqueles que lutam com frequência, seja para emplacar na carreira, ou seja esta sua fonte de renda, a vida social é praticamente inexistente.

Para ser o melhor em sua categoria, você deve dedicar todo o seu tempo ao seu sonho. Com isso vem os sacrifícios.

Há quem diga que é importante o equilíbrio entre se divertir e cumprir suas tarefas para a sanidade mental. Mas, infelizmente, lutadores não conseguem fazer isso com frequência.

Dores contínuas

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Seja por conta dos sparrings, de lesões ou simples dores muscular. Não importa, a dor é algo constante em um atleta. Às vezes dores em vários lugares ao mesmo tempo.

Tenho pra mim que nunca nenhum lutador entra no ringue sem nenhuma dor.

E se você é um atleta de verdade, quando puder tirar alguns dias de folga, perceberá que as dores poderão diminuir e até sumir. Mas ao relaxar o corpo, impressionantemente, outras dores que estavam “escondidas” aparecem. Sabe o que estou dizendo?

De brinde, lutadores no geral costumam carregar marcas em seu corpo: hematomas, cicatrizes, orelhas estouradas e o rosto ralado.

Fadiga constante

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Lutadores acordam muito cedo pra treinar e muitas vezes treinam até tarde. Na Tailândia podem treinar até 6, 8 horas por dia.

Se está se preparando para uma luta então, piora. Os dois treinos do dia te levará à exaustão completa e seu corpo entrará num estado de extremo estresse.

A má notícia é que não tem jeito, você simplesmente tem que aprender a conviver com a sensação de fadiga eterna.

Colocar seu corpo a prova o tempo todo

Este tópico tem a ver com os de cima.

Existem machucados que são ‘perceptíveis’ aos outros: osso quebrado, cortes, torções. Lesões mais sérias ainda podem ser tratadas por médicos, mas e as dores ‘normais’, aquelas do dia a dia? Digo, seu músculo pegando fogo enquanto treina e você tem que continuar, ou a pancada que recebeu num sparring mais forte.

A dor do músculo estressado ou as dores que o lutador vai acumulando durante a preparação não podem ser motivos para parar (não estou falando de lesões). Ou você aprende a conviver com essas dores ou você não poderá ser um lutador.

Neste tópico também cabe dizer sobre superação. Quando você tem que ir além do que você acha que é o seu limite. Um exemplo que acredito que muitos já passaram: quando seu treinador pede mais 50 chutes no fim do treino e você cheio de dor e cansado acha que não conseguirá, mas mesmo assim tenta – E CONSEGUE!

Sempre com fome

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Se você treina forte, seu metabolismo deve ser acelerado. Soma esse dado com o fato de que, normalmente, o lutador está na maior parte do seu tempo em uma dieta rígida ou cortando peso.

Além da fome, principalmente no início do corte de peso, vem a fraqueza que acaba fazendo seu treino render menos. Você acaba apanhando mais num sparring, ou a sua força ao bater saco e aparador está menor. Além da fome, você acaba não se sentindo preparado e ganha de brinde um abalo emocional por isso.

E não pode descontar no chocolate ou na cerveja.

É, é difícil.

Treinar mesmo quando você não quer

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Não há desculpas, se você quer ser o melhor, você tem que treinar mesmo se não quer.

Quando as coisas ficam difíceis, você treina, não importa o quê. Se você não tem qualquer motivação, você deve treinar de qualquer maneira. Se você está cansado, você tem que treinar de qualquer jeito. Se você está deprimido ou triste, você treina. Se o seu namorado ou namorada te abandonou, você treina e ponto.
Você deve treinar e manter a coerência para continuar progredindo. Mesmo se não estiver indo muito bem durante o treino, continue. Pelo menos você está fazendo algo ao invés de nada.

A Ronda Rousey no TUF em que atuou como treinadora disse alo que me chamou muita atenção: Você tem que treinar muito para ser o seu melhor no seu pior dia. Aprender a lidar com dias ruins também faz parte da rotina do lutador.

Acostumar com o desconforto

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A maioria das pessoas não gostam de ser colocada em situações desconfortáveis. O treinamento pesado pode te levar a desmaiar e a vomitar.

Uma dieta rígida também pode ser bem desconfortável. Lutadores, no entanto, tem que fazer do desconfortável, o confortável.

Afinal, não há nada de confortável em levar um soco no rosto.
Um lutador é tipo como um gladiador da nossa Era. Coloca-se em situações perigosas para entreter o público numa arena, onde todos estão gritando por sangue. Estas situações exigem aptidão física, força mental e condicionamento para se preparar qualquer adversidade que a batalha apresente.

Pode-se dizer que o lutador que mais sabe lidar com o desconfortável, mais preparado está.

É forçado a encarar seus medos

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Acho que de todos, este é o tópico que eu, Japa, mais gosto. Sempre penso nisso quando estou correndo de capa para tirar peso.

Alguns pensam que a coragem está em fazer algo sem medo. Na verdade, é o oposto.

Coragem é fazer algo apesar do medo. É fazer de qualquer maneira, não importa como você se sente.
Ser um lutador te obriga a viver com coragem o tempo todo. Os medos podem ser diversos: medo do seu oponente, medo de perder, medo de se machucar, medo de não bater o peso, medo de fazer feio.

A coragem também não é só enfrentar o medo, mas qualquer adversidade. De fazer o que tem fazer não importa o quão triste, cansado ou desmotivado você está.

O verdadeiro atleta cria coragem para fazer o que tem que ser feito, não importa qual e não importa o quê.

Isso é se forçar a combater os seus medos e superar os seus desafios.

A preparação para a luta pode te fazer desistir

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A preparação para uma luta pode ser muito difícil e desafiadora. Como já dito, é fato: você vai sentir muitas dores, fadiga, vai sentir ânsia de vômito, medo e até chorar.

Dias antes da luta, quando a preparação acaba, você tem a “agradável” tarefa de cortar peso.

É sentir fome, é sentir sede. E é pior, você acaba se sentindo um verdadeiro zumbi.

É normal as pessoas chegarem a chorar nesse momento, como mostrou um vídeo que há pouco circulara pela internet que a Cris Ciborg chorava pra chegar ao peso em sua última luta no UFC Brasília.
No geral, o caminho de preparação de um lutador é incrivelmente desafiador, e é um momento em que você se conhece e descobre para que veio.

Não ser definido pelo o que é, mas pelo o que faz

A frase acima pode não ter ficado muito clara, vou explicar.

Algumas pessoas pelo mundo acreditam que lutadores são um bando de ignorantes ou pessoas violentas.

Não, muitos lutadores são muito bem educados e/ou um amor de pessoa.
Dentro do ringue, lutadores são perigosos. Mas fora, os lutadores podem ser as pessoas mais gentis, generosas e humildes que você já conheceu.

E não é só porque gostam de lutar que não gostam de um bom livro ou de qualquer outra forma de conhecimento.
Por favor, não nos julgue!

CONCLUSÃO

Então, se ser lutador é só sofrimento, por que ser um?

Porque por toda a dor acaba valendo a pena. Não há nada como a alegria de ganhar uma luta, sabendo que você colocou tudo que trabalhara e aprendera em jogo.

Não tem nada, no meu ver, que compre a sensação de poder (de que sim, você pode) depois que soa o sino e a luta acaba. E que te mostre quão forte você é.

Há um monte de coisas boas que você aprende, principalmente sobre si mesmo.

Coisas como ser resistente, disciplinado, dedicado e passível de superar qualquer coisa são transferíveis para outras áreas da sua vida.

Portanto, não é só desgraça e depressão, há pontos positivos também que são tão difíceis de serem explicados como explicar o que é a exaustão de um atleta para quem não é.

Só passando por isso para entender.

Bom, mesmo assim, que esse texto – traduzido e adaptado – ajude muitos a compreender o que se passa nos bastidores. A luta em si, por incrível que pareça, é a parte mais fácil.
É o que antecede isso que realmente define quem é de quem não é de verdade.

Quem publicou?

Rapha Ribrodi

Administrador & Fundador do AcervoThai, ex-lutador profissional, desenvolvedor web e consultor de dados. Migrou para a Tailândia em 2012, morou em Bangkok, Phuket, Ubon Ratchathani, Chiang Mai e Pattaya. Com mais de 10 anos no país de origem do Muay Thai, Raphael lutou nos principais estádios e eventos na Tailândia. Com mais de 60 lutas pela Ásia, ele se dedica a divulgar o esporte no Brasil, para ajudar a nova geração de lutadores brasileiros.
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