Ela
O relógio desperta às 7:00 da manhã, Ela pede mais 10 minutinhos.
Quando se dá conta já se passaram 30, mas não tem problema, Ela se acha muito esperta por ter colocado pra despertar antes.
Acorda, faz um café preto e só. Arruma as coisas: roupas, toalha, reenche seus potinhos de viagem de shampoo e condicionador.
Cuida das refeições do dia: pega um dos tapewares com o frango e a batata doce que cozinhou pra semana toda sem muito sal, claro, porque sódio retém líquido.
Também separa frutas e faz um lanchinho pré treino de pão integral com creme de ricota light.
Escolhe um shorts e uma regata que não pesam muito. Veste e sai.
Para na farmácia da esquina de sua casa, joga a mochila no chão – que quase não fecha – e tira o moletom da cintura. Desamarra os dois cadarços ao mesmo tempo, tira os tênis e pensa: ah, vou tirar as meias também, deve ajudar em algo!
Sobe na balança torcendo pra dar pelo menos 0,3 kgs a menos que o dia anterior. As vezes dá, as vezes não. Ela não entendeu ainda a lógica da combinação alimentação e treino com a fisiologia do seu corpo pra diminuir sempre. Ou pelo menos manter.
Segue a pé mais uns 15 minutinhos, pega o trem. Agora, depois de pesar, já se acha no direito de comer aquele pão integral com ricota light que preparou, mas claro, espera a próxima estação passar para que o trem esvazie um pouco. Falta tempo suficiente pro carbo virar energia até sua chegada na academia.
O trem para mais do que deveria, o metrô está lento porque está lotado e Ela está atrasada. Não pro inicio do treino, mas para o que se propôs: chegar 30 minutos antes pra pular pneu e corda antes da aula começar. Ela treina certinho, mas longe do seu melhor. Algo tira seu foco. Não sabe se é a ansiedade para a luta ou se é ele.
Termina o seu treino e enquanto prepara sua proteína, observa os outros – que ainda estão treinando, com vontade de continuar. Mas Ela tem que ir.
Toma um banho rápido e corre pro escritório.
Ela está naquela semana que odeia seu trabalho, muitas planilhas e relatórios burocráticos. Ela prefere arte e poesia e pensa que gostaria de ficar treinando o dia inteiro.
Na hora do almoço, come o frango com batata doce debruçada no computador pra compensar o pequeno atraso por causa do treino da manhã e quando chega na metade do prato, se arrepende de ter levado pouca comida.
Mais tarde começa a dar fome. Ela olha no relógio e só se passaram 2 horas desde a última refeição. Bate um desespero porque Ela foi instruída a comer de 3 em 3. Isso a faz olhar para o relógio de 1 em 1 minuto com aquela cara, sabe?, até completar 60.
Vibra, chegou a hora: uma ou duas frutas e chá de hibisco com gengibre e canela. Termogênico, oras!
Quando termina o seu expediente, ela prepara outro pré treino e volta pra academia.
Dessa vez, treina com mais empenho pra deixar claro pra ela mesma e pro seu treinador que o rendimento do treino da manhã foi uma exceção, a regra é ser boa.
O corpo esquenta, a dor que sente some e o gás continua. Ela gosta daquele treino que vai até a exaustão.
Depois de 3 horas, mais proteína e troca de roupa. Por sorte, às vezes consegue uma carona até o metrô.
Faz o caminho inverso do da manhã, mas como já são 23:00 prefere pegar um ônibus pra ir da estação até sua casa. Espera por alguns longos minutos.
Em dias de inverno sente frio nesse momento, o calor que sentia quando deixou a academia já fora e Ela nunca pega roupa suficiente.
Janta só proteína, normalmente clara de ovos enquanto faz gelo e lê as notícias do dia.
Toma banho e lava o cabelo.
Ainda precisa fazer algumas coisas, como falar com alguém, escrever texto, pesquisar ou assistir a uma luta. Faz tudo isso sentada na sua cama.
Às vezes acaba dormindo, sem querer, de cabelo molhado mesmo, mas o costume é ligar o secador à 1 da manhã.
E de repente, não mais que de repente, o celular desperta.
E Ela pede mais 10 minutos.