Houve uma época em que eu acompanhava o futebol mais de perto.
Eu assistia, entre todos os outros campeonatos, à Copa do Brasil e quando meu Palmeiras não ganhava com 2 gols de diferença o primeiro jogo para evitar o de volta, eu juro que não me irritava como os outros torcedores.
Sempre pensei que o melhor treino é o próprio jogo, e que se o time jogasse mais, melhoraria sempre mais.
Mas, se aprofundarmos o pensamento sobre isso, encontraremos não só prós, mas contras também.
Imagine que, se por um lado jogar mais ajuda na técnica, no gás, no entrosamento do time, por outro, esse jogo “a mais” pode, eventualmente, causar alguma lesão em um jogador e comprometer seu rendimento em outros jogos ou até deixá-lo de fora da temporada.
Fazendo um paralelo com o Muaythai, depois da minha estreia, fiquei com vontade de lutar no fim de semana seguinte. E, adivinha? No seguinte de novo. E com vontade de lutar nesse fim de semana que vai chegar.
Posso listar algumas razões pra isso: vontade de lidar com todos os sentimentos que citei nesse post, vontade de fazer mais bonito e sem dúvida, vontade de melhorar: de novo a ideia que lutar é o melhor treino.
A Juliana Rosa, brasileira que mora na Tailândia, logo respondeu: “Vem, aqui tem luta toda semana!”
Surpreendentemente, ela acabou de fazer 5 lutas em 32 dias. Acho que foi a única brasileira a fazer esse tanto de lutas num curto período de tempo lá na Thai.
Por conta disso, resolvi bater um papo com ela e, claro, compartilhar com vocês.
Assista ao vídeo com suas lutas em seu canal Get in the Ring
Notem que, em suas respostas, aparecem diversas dicas para quem pretende ir treinar e lutar no berço do nosso esporte. Pra mim, a melhor parte é quando ela relata como foi viajar e lutar nesses dias. Achei emocionante.
Aproveitem!
“Um grande desafio não só para o corpo, bem maior para a mente. Lidar com derrotas e vitórias em tão pouco tempo. Esse é o jogo” Juliana Rosa.
Japa: Como é para estrangeiro conseguir luta na Tailândia?
Juliana Rosa: O principal fator para conseguir bastante luta na Tailândia é ter um bom contato. Pelo que eu vejo aqui, não importa se a academia tem um grande nome, se é famosa ou não, se não tiver um manager com bom contato com os promotores, fica difícil arrumar muitas lutas. No campo com um bom contato, gringo ou thai, se estiver treinando bem, o campo coloca pra lutar. Tem bastante evento aqui, especialmente na TV que eles procuram os gringos pra lutarem contra os thais, exemplo de eventos desse tipo que lutei foram: Max Muay Thai, Angel Fight – World Muay Thai Angels, Queens Birthday e o The Rising Queen Warrior – Womens Fight, promovem lutas de tailandeses contra estrangeiros. Alem de um bom contato na Tailandia, tambem conta muito ter um contato para lutas em outros paises, como China, Malasia, Australia, e entre outros paises proximos da Tailandia.
Japa: Como é pra mulher conseguir lutar na Tailândia?
Juliana Rosa: É natural ter menos lutas femininas do que masculinas, até porque o número de lutadores homens é muito maior do que as meninas que lutam. Em um evento aqui, com certeza o número de lutas masculinas vai ser 5x maior do que o de lutas femininas, a não ser em eventos específicos para mulheres. Fora que muitos estádios não permitem lutas femininas. Em muitos eventos, nem subir no corner ou encostar no ringue podemos. Aqui também entra a questão de um bom contato pra lutas. Eu fiz 5 lutas em 32 dias entre agosto/setembro desse ano, e mesmo eu sendo a única menina do meu campo que esta lutando, lutei mais que os homens. Tudo na Tailândia varia: contato, maior ou menor oferta de eventos, localização, época do ano, mas principalmente, um bom contato.
Japa: Você fez esse tanto de luta por que quis ou por que precisou?
Juliana Rosa: No meu caso, pelos dois motivos. Primeiro porque quis, já que vim para Tailândia para lutar, quanto mais lutas, mais experiência e aprendizado, e também porque gosto muito mais de lutar do que de treinar. Segundo porque sim, preciso, essa é a minha vida aqui, minha profissão, e como em toda profissão, se você não trabalha, você não recebe.
Japa: Como influencia na carreira de lutadora ter tantas lutas em seguida? É bom pra conseguir nome mas atrapalha no treino? Ou lutar é a melhor forma de se aperfeiçoar?
Juliana Rosa: Influencia na experiência de ringue, pelo menos no meu caso. No início de agosto, lutei em Pequim (China), passei o dia seguinte inteiro no aeroporto, cheguei em casa em Bangkok 1 da manha pra sair as 5 da manha de novo para outro aeroporto para lutar no aniversário da Rainha no dia seguinte em Chiang Rai, que fica no norte da Tailândia. Duas lutas que perdi por pontos em decisões divididas, sem descanso, sem tempo pra recuperar o corpo, sem dormir direito, apostando bastante na vontade de lutar e no coração. Após essa luta, 8 dias depois lutei em um cassino no Laos, enfrentando uma viagem de ônibus de 12 horas e 2 horas de chá de cadeira na imigração. Fiz a luta final do evento com uma tailandesa e venci por pontos. Foi uma luta dura já estava bem machucada das duas lutas que tinha feito uma semana antes e tudo ficou bem mais intenso após a terceira luta. Chegando em Bangkok, tirei 4 dias pra ficar na cama, mas logo tive que levantar com o telefonema do manager da academia dizendo que lutaria após dois dias em Bangkok. Fui para a academia bater 3 rounds de Pao para acordar o corpo e dia seguinte, luta. Enfrentei a tailandesa Saifa, que tinha uma grande vantagem em altura. Consegui vencer por KO no 4 round. Uma semana depois, mais 10 horas de ônibus para o norte da Tailândia para uma luta em uma cidade bem afastada do centro turístico. Eu era a única estrangeira do evento e o locutor falava o meu nome a cada 5 minutos. O evento foi em uma grande feira noturna na cidade, que por não ser turística, não tem gringo em lugar nenhum. Era notável que quase todos que estavam lá desacreditavam de mim, uns olhavam rindo, outros perguntavam se eu era boa de futebol… Lutei contra a tailandesa da cidade e sabia que ia precisar trabalhar forte os 5 rounds se quisesse vencer, e foi o que fiz, lutei forte, ignorando as lesões e venci por pontos após 5 rounds. O que me alegrou mais foi em ver que a atitude de todos mudaram, vieram me cumprimentar e tirar fotos, me dando os parabéns. Em 30 dias, passei por todas as emoções possíveis que imaginava. Foi muito bom também para o meu nome. Lutar em diferentes regiões expandiu meu nome, sai nos jornais nacionais e locais e mais pessoas e promotores passaram a saber quem sou.
Japa: Como é lidar com as lesões e recuperação pra honrar com todos os compromissos?
Juliana Rosa: No meu caso, foi engolir o choro, a dor e escutar o Saiyok Pumphanmuang falando: “Na hora da luta, esquenta com óleo que não vai sentir nada”. Dor na canela, pé, joelho, costela não passa em poucos dias, ainda mais recebendo mais contato a cada luta. Não quis tomar nenhum remédio pra dor pra não afetar nada no rendimento físico, então ia com óleo mesmo. Deixando claro que fiz essas lutas seguidas, mesmo machucada, porque eu quis. Nem meu campo, nem manager e nem promotor nenhum me obrigaram a lutar. Eu pedi lutas, eles ofereceram as datas, eu aceitei todas. O dono do meu campo até me pediu para descansar um pouco, mas a decisão de realizar todas as lutas foi minha. E ainda não acabou, a próxima luta é dia 3 de outubro em Korat, na Tailândia e dia 18 de outubro na China.
Chok dee, Juliana! É o que essa fã aqui do Brasil te deseja!
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