Sim, há uma grande diferença entre ambas, e não, não é o número de lutas. Primeira coisa, vamos deixar de lado o conceito do boxe, onde é necessário uma carreira amadora para tornar-se profissional. Já no Muaythai não existe essa obrigatoriedade, o lutador pode ser amador, profissional, ou ambos, pois são esportes diferentes, regulamentados por órgãos diferentes.
“Muaythai é tudo igual” Não, não é
Podemos pensar como futebol de campo e futsal. Os dois tem o mesmo objetivo, fazer gol. Mas o tempo, tamanho da quadra, número de jogadores, regras e punições, não. Partindo do princípio que são dois esportes diferentes, não há necessidade de praticar, futsal para jogar campo, ou vice-versa.
O que existe, é a necessidade de jogar nas subdivisões (juvenil, júnior, série C, séria B), ganhar experiência, e chegar à primeira divisão. Um excelente jogador de futsal, como Falcão por exemplo, não rendeu nada quando foi jogar no campo.
Alguns excelentes amadores lutam nas regras profissionais e não tem sucesso, e vários profissionais, já tentaram lutar o mundial amador, mas não conseguiram chegar muito longe. Claro que há exceções, e acredito que o melhor exemplo é o bielorrusso Andrei Kulebin, multi-campeão amador e profissional.
Classes e Divisões no Amador e Profissional
Os profissionais são geralmente divididos pela quantidade de lutas. Iniciante de 0 a 5 lutas, intermediários de 6 a 15-20 lutas, e avançados acima desse limite. Os amadores adultos são divididos em 2 classes, A e B, não importando quantas lutas o atleta possua.
Existem amadores avançados, e profissionais iniciantes, ou seja, existem amadores com muita experiência, e profissionais que nunca lutaram. O conceito de amador e profissional, no Muaythai trata-se das regras e julgamento.
No amador, ou olímpico as luvas são de velcro 10oz para todas as classes, as lutas tem 3 rounds, 5 juízes, as proteções são obrigatórias para todas as classes (capacetes, cotoveleiras, caneleiras, coletes), além das camisetas e shorts sempre vermelhos ou azuis.
IFMA (Federação Internacional de Muaythai Amador)
Atualmente o maior órgão do esporte, onde cada atleta faz uma luta por dia, de acordo com o número de inscritos em sua categoria. Durante a semana de competição, as pesagens acontecem diariamente pelas manhãs, o que impossibilita grande perda de peso por parte dos lutadores.
O muaythai profissional, ou simplesmente Muaythai, é o esporte que deu origem à versão amadora. Na Tailândia não há proteções, mas podem haver no ocidente, para preservar a integridade física dos praticantes menos experientes, que muitas vezes praticam o esporte apenas por lazer.
Existem restrições quanto aos cotovelos em lutas infantis, e variações no tempo dos rounds, mas o principal fator, é a forma de se julgar. Vence o atleta mais forte e com melhor equilíbrio, que consegue machucar e causar mais dano ou cansaço em seu oponente.
Muitas vezes, não é quem mais atinge o adversário, e sim quem atinge mais efetivamente, e isso acaba ficando confuso para a maioria dos estrangeiros. Lembrando que o muaythai é um esporte tailandês, portanto o conceito utilizado na Tailândia deve ser o modelo para os demais países.
O tamanho das Luvas no Amador e no Profissional
Diferentemente da versão amadora, o tamanho das luvas varia de acordo com o peso dos lutadores. As pesagens profissionais costumam ocorrer no dia anterior às lutas, mas na Tailândia ocorrem pelas manhãs. Ao contrário das competições amadoras, que quase sempre ocorrem na forma de torneio, no muaythai profissional, as lutas quase sempre são casadas.
O amador busca os títulos (distritais, estaduais, nacionais, continentais, mundiais), e normalmente é remunerado pela sua federação mensalmente, mas só quando conseguir um resultado e fizer parte da seleção de sua cidade, estado, ou país.
Nesse caso, suas despesas são pagas para os campeonatos, e também recebem bônus por medalhas. Os russos, ucranianos, e bielorrussos dominam o esporte, pois contam com massivo suporte de seus governantes, alguns chegam a ter salários mensais de mais de R$ 30.000. Muitos dos campeões amadores não lutam profissionalmente porque o que receberiam para lutar acaba não compensando.
Amador x Profissional x Dinheiro
Os bons tailandeses não lutavam amador porque não eram remunerados em momento algum (como ocorre no Brasil). Era mais vantajoso lutar profissionalmente no estádio e receber, do que lutar amador e não receber nada. Porém nos últimos 3 anos eles decidiram premiar quem trouxesse uma medalha no mundial, ou jogos asiáticos.
Com essa mudança, melhores tailandeses começaram a se interessar. no mundial da IFMA 2014, embolsaram um prêmio do governo de aproximadamente R$ 75.000. O muaythai amador pode ser bem rentável caso seu país tenha uma confederação séria por trás, como acontece na Ásia e Europa.
Mas nosso continente não tem tradição nenhuma, e o único país que tem um nível competitivo razoável, ainda que na classe B, é o Peru.
Mas por que o Peru?
Porque alguns anos atrás eles trouxeram um treinador russo, e as irmãs Shevchenko para dar aulas no país. Como resultado, conseguiram algumas medalhas na classe B e Júnior.
O Brasil tem bons lutadores profissionais, que ficaram conhecidos por recursos próprios, e agora felizmente vem chegando a segunda geração. Já no muaythai amador essa primeira geração ainda não apareceu, porque nos falta um treinador especializado, e muita competição.
Apesar da falta de tradição, que possamos usar pelo menos os termos corretos: muaythai amador não é luta de iniciante, e profissional não significa luta de avançados.