Estudar a história do muaythai é fundamental para entender de fato o que você pratica, ou acima disso, no que você está dedicando boa parte de sua vida. Hoje muito se fala sobre o trabalho de “clinch” dentro do muaythai, as técnicas, a evolução desse trabalho, o que a regra diz sobre legalidade e proibição. Porém você sabia que o Judô teve influência nisso? Acompanhe a história.
JUDO
Jigoro Kano sensei fundador do Judô
Criado por Jigaro Kano em 1882 como um sistema de ensino simplificado para auto defesa, mas principalmente como atividade física para todas as pessoas, se tornou muito popular no Japão e na Europa. O Judô teve oficialmente uma academia na Europa (Inglaterra) em 1918, porém em 1899 o Jujutsu já era ensinado por Yukio Tani na Inglaterra.
Jigoro Kano estudou Tenjin Shin’yō-ryū, famosa escola de Jujutsu, uma Koryu, ou seja, uma escola de arte marcial antiga. Ele aprendeu técnicas de pressão em pontos vitais (Kyusho-jitsu), projeções (Kito-Ryu), além claro de lutas no solo (Tenshin Shinyo). Com todo esse conhecimento ele elaborou o Judô e foi o primeiro dentro das artes marciais e esportes de combate a criar a ideia de “graduação”. Entenda melhor como surgiu a graduação e a ideia de faixas em nossa matéria aqui
PRINCIPE WIBULYA
Em 1912 após uma viagem de estudos em Londres o príncipe do Reino de Sião (hoje Tailândia) retorna para casa e com ele traz algo que conheceu e praticou no país europeu, o Judô. O príncipe inicialmente passou a ensinar a arte japonesa apenas para nobres, membros da família real e militares de alta patente. Porém há registros do ensino do Judô desde 1907 devido a pequena colônia japonesa moradora da capital Bangkok.
Em 1913 o boxe ocidental é incluído no currículo da Escola Suan Kulap assim como o ensino do muay, determinado após os eventos de 1909 com Rama V. E o Judô passou a ser oferecido também. Importante salientar que após esse crescimento do Judô, lutadores tailandeses foram enviados ao Japão para treinamento aperfeiçoado na Kodokan (central do judô no Japão).
Em 1921 o primeiro “ringue” fixo para lutas de Muay e boxe foi instalado nos jardins do Suan Kulap, no início era apenas um tablado elevado do chão e um juiz central apenas para controlar o espaço. As regras eram basicamente, a luta é interrompida mediante nocaute ou desistência.
Escola Suan Kulap o 1º ringue fixo de Muay da Tailândia
Essas datas são fundamentais para explicar a evolução do Muay para o Muaythai esporte de ringue, e no ano de 1927 o ministro da educação inclui competições oficiais de Judô no país. Portando Muay, Boxe e Judô eram ensinados e praticados por civis, militares e lutadores. É inegável a troca de experiências entre eles, assim como hoje ótimos lutadores de boxe dos pesos mais baixos são tailandeses, mas no caso do Judô houve um problema grave.
SEGUNDA GUERRA MUNDIAL E A INVASÃO À TAILÂNDIA
Em 8 de dezembro de 1941 o Japão invadiu a Tailândia (até então neutra na guerra), era o auge da segunda guerra mundial. O Japão queria passagem livre para invadir Birmânia e Malásia, então colônias da Inglaterra. O primeiro ministro Plaek Phibunsongkhram, ditador tailandês (1938-1944) foi o responsável pelas negociações e aceitou o pedido japonês, considerando ser melhor a invasão aos vizinhos, ajudando inclusive com soldados na invasão.
Porém a população e políticos tailandeses eram contra essa iniciativa, criando assim grupos de resistência as ordens do primeiro ministro. Em agosto de 1944 após o Japão ter sofrido várias baixas, o primeiro ministro tailandês é derrotado em tribuna e renunciou ao cargo. Com o final da guerra Plaek Phibunsongkhram foi preso pelos aliados e acusado de crimes de guerra, porém pressões políticas/diplomáticas amenizaram sua pena.
Após todos os traumas causados pela guerra, houve um esforço muito grande do governo tailandês para firmar sua identidade e acima de tudo sua independência. Isso incluiu música, pintura, dança, livros e claro; esporte de combate. Na publicação abaixo (anterior a invasão japonesa) fica claro que os golpes de queda eram permitidos, porém o “clinch” não. Após a segunda guerra houve uma proibição geral de “golpes de projeção semelhantes ao judô”. O sentimento pós guerra marcou a todos.
Em destaque “quedas são permitidas, mas por outro lado clinch é proibido“
REGRAS
De acordo com o manual de regras do Conselho Mundial de Muaythai (WMC) na sessão 18 consta;(travas e quedas de judô são proibidas). No Board of Boxing Sports Rules (Sports Authority of thailand 2002) consta na sessão 16; travas e quedas de judô são proibidas. Assim como no manual de regras da IFMA consta a mesma informação. Essa proibição acabou por contribuir com o trabalho de clinch, ser aprimorado e bem trabalhado, já que quedas e travas “de judô” foram proibidas.
Porém a linha sobre o que pode e o que não pode fazer é muito cinza, lutadora com mais de 250 lutas profissionais de muaythai, Silvie Von Douuglas debate melhor isso em seu site: 8Limbus Fórum
Mas o fundamental do ponto vista dela é que boa parte da regra é “não escrita”, ou seja, demanda uma imersão muito grande dentro do esporte para compreender sobre como as coisas de fato funcionam, e claro, o local, as apostas e quem são os lutadores influenciam muito essa regra.
Abaixo anotações da própria Silvie a respeito de golpes proibidos:
- a) Um boxeador envolve sua perna ao redor da perna de seu oponente por dentro ou por fora e força seu oponente a cair no chão.
- b) Um boxeador trava o pescoço de um oponente e executa um arremesso quadril a ombro
- c) Um boxeador agarra o quadril de seu oponente em uma chave de cintura e arremessa usando um arremesso de quadril
- d) Um boxeador agarra o braço de um oponente, vira e usa sua panturrilha e parte de trás de sua coxa (grupo muscular isquiotibial) para varrer as pernas de um oponente por baixo dele.
- e) Um boxeador agarra um oponente e cai para trás para arremessá-lo.
- f) Um boxeador tenta um tackle estilo rugby nas pernas e na cintura de um oponente
- g) Um boxeador agarra a cintura de seu oponente por trás, então, colocando uma perna entre as pernas de seu oponente, puxa seu oponente para trás sobre sua perna e quadril
- h) Um boxeador agarra seu oponente por baixo da cintura, levantando e arremessando
- i) Um boxeador pega a perna do oponente e usa o outro braço para desequilibrá-lo enquanto dá mais de dois passos à frente
- j) Um boxeador pega a perna de seu oponente e usa o músculo da panturrilha para tropeçar / varrer um oponente de seus pés
- k) Um tornozelo de boxeador tropeça em seu oponente
- l) Uma perna de boxeador varre seu oponente usando a panturrilha ou a parte interna do pé
- m) Um boxeador prende os braços de seu oponente em uma chave de cintura, levanta seu oponente e arremessa
- n) Um boxeador agarra um oponente por trás, levanta e arremessa
- o) Um boxeador agarra a parte inferior da coluna de um oponente e projeta suas costas em um movimento de “quebra de costas”
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