A Corrupção a máfia e muito dinheiro
Como falamos na Parte 01, a corrupção está enraizada ao muaythai profissional. Apesar da proibição legal das apostas, elas acontecem normalmente dentro e fora dos estádios. E quem controla tudo isso? A Máfia.
Em alguns casos, o juiz sabe quem deverá ganhar, mas, se por acaso ele der a vitória para o adversário, haverá grandes problemas. O juiz irá perder seu emprego, entre outras consequências nada agradáveis.
A frase acima é de Zien Ou, um dos chefes da máfia das apostas dentro dos estádios de muaythai. um senhor de 70 anos que no primeiro momento não aparenta ser nada perigoso. Apenas no primeiro momento.
Zien ainda diz: “Você pode reparar em uma luta de Muaythai, geralmente no quinto round o lutador irá olhar para os apostadores, para saber o que deve fazer, ir pra frente e lutar, apenas se defender. É assim que funciona”.
Apostas legalizadas e corrupção controlada
Mas nem sempre foi assim, construído em 1956, o estádio Lumpinee era dirigido pela 1ª Divisão da Guarda Real e seu general Tongterm Ponsuk. O estádio era o único local legalizado para apostas. Há contradições a respeito dessa informação, mas no caso refiro-me apenas as apostas como diversão.
A Era de Ouro do Muaythai começou na década de 1970, quando o ex-lutador Boonsong era o diretor de arbitragem. É dito que nada podia ameaçá-lo, influenciá-lo ou comprá-lo. As apostas eram legais, porém, seguiam as normas. Não havia corrupção, pelo menos não de forma sistematizada.
Em Julho de 1979 o controle do Lumpinee passou para o Departamento de Defesa, e, aos poucos os apostadores começaram a ganhar poder dentro dos estádios. O que era apenas diversão, tomou proporções profissionais e perigosas.
Um dos efeitos mais visíveis está na própria regra do Muaythai. Complexa em si, possui um principio chamado OkhaKan (dano percebido), além de técnica e agressividade.
É um jogo não tão simples de entender, o que deixa mais livre os apostadores. Suwanna Srisongkam, editora da revista ChampBoxing Magazine, diz: “Durante as lutas, eu via os apostadores fazendo sinais de mão para os juízes, apontando direta ou esquerda, e quando chega ao fim da luta, o vencedor foi o apontado”.
Zien diz que os lutadores quase sempre não fazem ideia desse controle, porém sabem como funciona. Geralmente a partir dos donos do campo, que sabem pelos treinadores, que sabem pelos apostadores. Tudo está conectado.
A mídia costuma exagerar sobre historias de máfia, mortes e manipulações?
Talvez sim talvez não, mas com o acesso a internet e redes sociais fica cada vez mais fácil reportar situações assim. Como a tentativa de assalto que resultou na morte de um segurança no Lumpinee: Tiroteio no Lumpinee Stadium
Ou os casos de envenenamento, lutas compradas, apostadores jogando lixo nos juízes. Tudo está na internet, mostrando que o outro lado do esporte é sujo e perigoso.
Com a abertura do novo Lumpinee, em Fevereiro de 2015, a audiência local caiu 60% para estrangeiros e 40% para tailandeses. Porém, o interesse estrangeiro cresce a cada ano.
A solução pode não estar dentro, mas fora da Tailândia. Com o crescente interesse no esporte e nos lutadores, e longe das mãos da máfia local, o muaythai respira.