Quem nunca ouviu ou leu aquela famosa frase do Rocky Balboa, que diz que não importa o quanto você vai bater e sim quanto você aguenta apanhar?
Na vida também tem dessas.
Todo mundo fala que vir pra Tailândia é um sonho. E ok, é mesmo.
Mas também tem seus dias de pesadelo.
Nos meus primeiros dias aqui, conheci uma ‘Japa’ totalmente diferente. Eu quase nunca fiquei doente no Brasil e aqui eu tô pegando de tudo. Virei uma menina frágil, irreconhecível. É difícil lidar com essa nova ‘eu’.
Neste post, eu comentei que meu corpo quebrou enquanto eu treinava no Sitsongpeenong de Bangkok, há dois anos. Dessa vez não foi diferente. Aliás, foi… Foi pior.
Mas eu não lembrei de primeira, que já havia ficado mal, pra me ajudar a entender o que estava acontecendo dessa vez. Porém, obviamente, logo depois recordei de que já havia passado por algo parecido, e foi difícil acessar os detalhes do que eu senti da primeira vez pra poder comparar com o que eu estava sentindo agora.
Por que? Simples. As coisas ruins passam.
Deve ser por isso que todos aqueles que moraram aqui, principalmente os primeiros que vieram, sentem tanta saudade desse lugar.
Quem é forte e vence os desafios, de fato SUPERA e acaba trazendo dentro de si apenas as boas lembranças e os bons aprendizados.
Veja. Não falei que esquecem da caminhada, mas há superação e depois o aprendizado, que é o que importa, não?
E nesse tempo já pensei e refleti sobre algumas coisas. Vou tentar postar alguns textos aqui e alguns vídeos no youtube pra tentar entender essa coisa louca de estar aqui, e se vocês acharem que é o caso, aproveito e compartilho com vocês.
Por exemplo, a primeira semana foi uma merda. Odiei cada segundo. Eu estava hospedada há quase 1km da WMC e choveu muito o tempo todo por 8 dias. Me encharcava para ir e voltar da academia. Fora do horário dos treinos, eu não tinha o que fazer, só ficar no meu quarto que estava dividindo com outras 43 pessoas.
Além disso, não conseguia dormir por conta da diferença de fuso horário, fiquei doente, e tudo, T-U-D-O doía. Eu só pensava: O que eu vim fazer aqui?
A segunda foi linda.
Os meninos de Phuket vieram pra Samui, passaram aqui na academia onde eu tinha me mudado no dia anterior e cara, receber visita foi tipo um indício de que estava começando a me sentir “em casa”.
As tempestades se foram, o Sol abriu e é incrível como o clima influencia em tudo.
Conheci pessoas maravilhosas e, de quebra, descobri quem anda junto comigo no Brasil, mesmo longe.
Já marcaram luta pra mim, e também já percebi que sei bem menos sobre muaythai do que imaginava.
Gostei de ver que lutar é algo realmente natural. Os caras nos treinam o dia todo, lutam a noite e dia seguinte tão aqui trabalhando as 7 da manhã nos treinando novamente. O que parece tão especial aí, aqui é a pelada de terça a noite.
Ah, percebi que vou aprender mais frequentando boteco com apostador do que assistindo às lutas sozinha, no Youtube.
E constatei que é universal: os primeiros a criticarem os lutadores são aqueles que nunca entraram num ringue.
Senti logo de início a diferença entre a cobrança de treinar como atleta e treinar como turista. Como foi da outra vez.
Já comecei a pesar os prós e contras (no meu caso, os prós ganham) de estar aqui sozinha, e já tenho uma opinião entre vir pra cá por conta ou em grupo fechado.
Já estou quase boa. Já consigo dormir a noite e já me perdi nos dias. Amanhã completo 3 semanas, mas, já não quero mais contar. Quero apenas viver um dia de cada vez.
Estou em paz. Tô feliz.
Dois dias atrás, meu vizinho me falou que quer ir pra casa logo, que está com saudades do seu “lifestyle”.
Falei: Que? Que porra de lifestyle?
Ele disse: Sim, meu quarto, minha cama, meu chuveiro, meus amigos, minha vida.
Foi quando eu me dei conta de que eu, ao contrário, parece que eu acabei de encontrar o meu “lifestyle”.
Já, estranhamente, me sinto parte daqui. Saí hoje pra correr e encontrei 3 amigos num caminho de 5km. É tipo cidade do interior. E é praia. É tipo, todo mundo sorrindo, todo mundo se falando.
Em breve começam os novos desafios e junto, sei… Mais perrengue.
Também não vou ficar comemorando vitória antes do jogo acabar, porque sei que tem chão ainda por vir.
Mas digo que seguirei aqui apanhando. Porque como disse o atleta da Phuket Fight Team Thiago Alves, “aqui é difícil ter dia bom, mas quando tem é bom demais”.
Sigo pra ter esses dias.
Sei que eles virão e serão eles que ficarão por mais tempo dentro de mim.