Acho que é a terceira ou quarta vez que começo a escrever uma postagem ou pesquisar algo para postar e aí no meio do caminho o assunto toma outro rumo.
Esses dias, com base no último evento de luta que eu fui e pelas pessoas que convivo no Muaythai, fiquei pensando sobre o perfil de quem frequenta os eventos de lutas. Criei uma teoria que as pessoas só vão assistir às lutas quando tem algum amigo ou sua equipe no card.
Decidi então fazer uma pesquisa e minha teoria caiu por água a baixo. 56% dos entrevistados vão a eventos de lutas mesmo sem conhecer os atletas, sendo que 6% responderam que sempre tem alguém que conhecem.
Logo, dos entrevistados, só 38% responderam que nunca foram à lutas ou só vão quando conhecem os competidores.
Para ajudar a compreender esses números, vou falar um pouco do perfil dos entrevistados.
Muitos deles, ao assinalar qual sua relação com o Muaythai, assinalaram mais de uma opção. Ou seja, é comum termos atletas que também são treinadores, ou treinadores que organizam eventos, escrevem em blogs etc… E cerca de 30% praticam o boxe tailandês apenas como prática esportiva.
Preciso dizer que não sou uma pesquisadora ou estatística – apesar de ter um monte de amigos que são e me ajudaram com um conselho ou outro para desenrolar essa pesquisa.
Logo, não posso afirmar que essa mostra é um panorama do cenário do Muaythai brasileiro, mas mesmo assim decidi publicar os números porque eles podem despertar alguma reflexão.
Dos 50 entrevistados (todos voluntários):
48% são alunos
42% são treinadores
14% são atletas profissionais
12% são atletas amadores
8% organizam eventos
6% são blogueiros, colunistas e afins
4% são dirigentes de associação
2% são empresários de atleta
2% são árbitros
Quanto a gênero:
58% são homens
42% são mulheres
Sobre a quantidade de tempo que os entrevistados se relacionam com o Muaythai. Pra minha surpresa, tive resposta de gente que pratica há 1 mês e de gente que respira o Muaythai há 40 anos!
Até 1 mês: 2%
2 – 6 meses: 4%
6 meses – 1 ano: 10%
1 – 2 anos: 16%
2 – 5 anos: 24%
5 – 10 anos: 16%
10 – 20 anos: 24%
20 – 30 anos: 2%
30 – 40 anos: 2%
Devo dizer também que recebi respostas de diferentes partes do Brasil e até de brasileiros que vivem na Tailândia. Gente de São Paulo, Santos, interior de São Paulo, Minas Gerais, Sergipe, Alagoas, Amazonas, Rio Grande do Sul e etc. Isso impactou nas respostas de quantos frequentam seminários e lutas. Muitos disseram que gostariam muito de participar, mas que em sua região não tem eventos.
Quanto a seminários:
32% nunca foram
30% já foram uma vez ou outra, mas não costumam frequentar
38% vão com muita frequência
Quanto a evento de lutas:
20% nunca foram
32% já foram uma vez ou outra, mas não costumam frequentar
48% vão com frequência
Esse post tá muito chato? Muitos números, né? Prometo que se eu tiver um tempinho eu arrumo esses números em gráficos pra ficar mais fácil a leitura. Eu tive uma semana bem difícil o que atrasou um pouco esse texto.
Mas agora vem a parte interessante!
Gostei muito, na verdade, de saber que 80% frequentam lutas, mesmo com menos frequência, e como já disse, 56% vão mesmo sem conhecer os atletas do card.
Fiquei pensando como isso é positivo para o Muaythai crescer no Brasil, como é importante as pessoas frequentarem lugares de Muaythai. Isso tem a ver com empoderamento, saca o que eu tô querendo dizer? É uma discussão séria que temos no campo de museu e arte também.
Empoderamento é a conscientização e socialização do poder entre os cidadãos de conquistar a capacidade de participação em algo. Aqui, no caso, do Muaythai.
Quanto mais gente participar, acredito eu, mais apoio e criticidade vão surgir. Eventos ruins vão ter que melhorar ou acabar. Quanto mais gente participar, mais união pelo crescimento do Muaythai verdadeiro (não gosto de usar as expressões Muaythai verdadeiro, Muaythai tradicional porque Muaythai é Muaythai, certo?) seja na filosofia, nas tradições, nas regras, na arbitragem, nos treinamentos e principalmente nas condições de tratar os atletas.
Bom, todos os entrevistados responderam o porquê não frequentam eventos de Muaythai ou os que frequentam, responderam o porquê imaginam que as pessoas não frequentam. Surgiram esses dados:
(Os entrevistados aqui podiam assinalar mais de um campo também)
Falta de divulgação, as pessoas nunca sabem quando e onde tem lutas para assistir: 40%
Falta de interesse: 30%
Ingressos de valor alto: 14%
Falta de tempo para frequentar esses eventos: 14%
Não tem evento na cidade: 6%
Outros (como lutas mal casadas, eventos ruins): 4%
Bom, como podemos ver, o principal problema encontrado é a divulgação, falta chegar informação nas pessoas. Como podemos resolver isso?
Tive muitas respostas em relação à má organização de evento também (falta de divulgação não deixa de ser isso).
Há quem afirma que o amadorismo e falta de estrutura de eventos afastam o público: às vezes eventos acontecem em lugar sem infra nenhuma, nem com um banheiro decente.
Citaram também lutas mal casadas, árbitros despreparados e atletas que faltam na sua própria luta como fatores que inibem participantes tanto dentro do ringue quanto na plateia.
Na pesquisa, surgiram muitos relatos em relação a ingresso com valores altos, inscrição de atleta alta e bolsa baixa para atletas profissionais. Cards com muitos atletas visando mais quantidade do que qualidade das lutas.
Muita gente falou que alguns promotores e algumas federações só visam lucro não estando preocupados com o crescimento do Muaythai (verdadeiro, de novo!): Um dos entrevistados citou que a divulgação do evento usava a palavra Muaythai, mas chegando lá assistiu às lutas que não valia o cotovelo.
Thiago Petrin, meu treinador, me disse que sente falta dos organizadores criarem uma história dos atletas para que o público acompanhe a luta até antes começar, pensar não só o dia do evento, mas no antes e depois, com vídeos sobre os lutadores nas redes sociais, por exemplo.
Isso vai de encontro com o que Fabaum Damasio escreveu: “muitos eventos não se preocupam em trabalhar forte a imagem dos atletas, temos que valorizá-los pois eles são os artistas de nossos shows.”
Finalizo esse post agradecendo muito a todos que participaram da entrevista. Vocês também são responsáveis por esse relato!
Um beijo,
Japa.
Obs.: O post inicialmente era para eu falar sobre o Titanium Challenge, evento que acontecerá no dia 06/06 em São Paulo – olha como eu desviei o assunto e fui longe… Acredito que terão lutas muito boas! Fica aqui a indicação!