Ao longo dos últimos anos, o Muaythai tem sido promovido no Brasil como um esporte de combate técnico, seguro e profissional, conquistando cada vez mais espaço e reconhecimento. Em nosso texto, buscamos trazer uma reflexão sobre os impactos da divulgação do Lethwei dentro do cenário do Muaythai no Brasil, sem intenção de desmerecer qualquer arte marcial ou restringir o conhecimento dos praticantes.
Nosso objetivo foi apontar que a promoção do Lethwei dentro das academias de Muaythai pode gerar desafios e consequências que precisam ser consideradas pelos treinadores, especialmente no que diz respeito à segurança, regulamentação e à imagem construída do Muaythai ao longo dos anos.
Dessa forma, gostaríamos de responder aos pontos levantados na nota de repúdio, esclarecendo nosso posicionamento e reafirmando a intenção do nosso texto.
1. Aprofundamento técnico e filosófico
A nota menciona que aprender diferentes modalidades, incluindo o Lethwei, pode enriquecer a formação dos treinadores de Muaythai. No entanto, nossa análise foca no impacto da associação do Lethwei à estrutura do Muaythai no Brasil, e não na busca individual de conhecimento.
O Lethwei possui características muito distintas, como a ausência de luvas e o uso de cabeçadas, que não são apenas técnicas diferentes, mas sim elementos que mudam radicalmente a natureza da luta. Em um país onde o Muaythai luta para se consolidar como um esporte regulamentado, com eventos organizados e reconhecimento institucional, a introdução do Lethwei pode trazer confusão e até dificultar avanços nesse sentido.
O fortalecimento do Muaythai, portanto, passa pela manutenção de sua identidade esportiva e pela valorização de suas regras e segurança, garantindo que o crescimento da modalidade continue sólido e alinhado aos padrões internacionais.
2. Mistura com defesa pessoal e outras artes marciais
A resposta menciona que as técnicas do Lethwei podem ser integradas a sistemas de defesa pessoal sem perder sua essência. No entanto, a questão levantada em nosso texto é a forma como essa integração acontece.
A prática do Lethwei no Brasil muitas vezes não segue um padrão técnico estruturado, o que pode levar a adaptações que descaracterizam sua essência original e criam versões híbridas sem a mesma legitimidade. Isso é diferente do que ocorre com o Muaythai, que passou por décadas de desenvolvimento internacional com uma base de regras e metodologia amplamente reconhecida.
Nossa preocupação não é com o aprendizado individual, mas sim com a promoção do Lethwei sem um contexto adequado e sem o devido conhecimento cultural e técnico, o que pode acabar prejudicando tanto o próprio Lethwei quanto a imagem do Muaythai.
3. Reputação profissional dos treinadores
A nota afirma que ensinar Lethwei não compromete, mas valoriza a reputação de treinadores. Entretanto, essa afirmação ignora o impacto da percepção pública e do mercado esportivo.
O Muaythai no Brasil tem lutado para ser reconhecido como uma modalidade séria, estruturada e segura, tanto no âmbito profissional quanto amador. A introdução de práticas mais agressivas e menos regulamentadas pode gerar resistência tanto de praticantes quanto de instituições esportivas.
Isso não significa que treinadores não possam aprender ou explorar outras modalidades, mas sim que a forma como isso é apresentado pode afetar a maneira como o público enxerga a seriedade do Muaythai.
4. Segurança e riscos do Lethwei
A nota argumenta que as técnicas do Lethwei podem ser ensinadas de maneira segura, com equipamentos de proteção adequados. Porém, essa afirmação contradiz a própria essência da modalidade, que tradicionalmente não utiliza luvas e tem um foco muito maior no nocaute do que na pontuação técnica.
Enquanto o Muaythai evoluiu para um formato profissional com padrões de segurança bem estabelecidos, o Lethwei ainda carece de regulamentação e reconhecimento global. Isso significa que sua prática fora de Myanmar pode acontecer de formas muito variadas, sem um consenso sobre regras e segurança.
Nosso ponto principal aqui não é proibir ou limitar o ensino do Lethwei, mas sim destacar que promover um esporte sem essa estrutura pode trazer riscos reais para academias e treinadores.
5. Inclusão e ética no esporte
A nota afirma que a crítica à exclusão de mulheres no Lethwei está desatualizada, pois a modalidade tem passado por mudanças. Reconhecemos que avanços estão acontecendo, mas é inegável que historicamente o Lethwei teve uma barreira significativa para a participação feminina.
O Muaythai, por outro lado, tem trabalhado ativamente para incluir mulheres em todos os níveis, desde competições até treinamentos, algo que fortalece sua imagem como um esporte moderno e acessível.
Nosso objetivo ao abordar essa questão não foi desmerecer o Lethwei, mas sim apontar que seu histórico de exclusão contrasta com os esforços do Muaythai por maior inclusão e equidade.
Conclusão
Nosso texto não teve a intenção de desrespeitar outras modalidades, mas sim de provocar uma reflexão sobre o impacto de divulgar o Lethwei dentro do cenário do Muaythai no Brasil.
A evolução das artes marciais é um processo natural, mas para que isso aconteça de forma positiva, é importante garantir que a identidade e os valores de cada modalidade sejam respeitados. O Muaythai tem se consolidado como um esporte profissional estruturado, e qualquer prática que possa gerar confusão ou desviar sua trajetória deve ser analisada com cautela.
Reforçamos nosso respeito a todas as artes marciais, incluindo o Lethwei, mas mantemos nossa posição de que sua promoção dentro do contexto do Muaythai pode gerar desafios que precisam ser considerados pelos treinadores e praticantes.
Atenciosamente,
Equipe Acervo Thai
