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A verdadeira origem do Bushido o código do guerreiro

A história do código mais famoso dentro da arte marcial que nunca existiu

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Publicado em 13/10/2021

O Bushido é o mote mais famoso dentro das Artes Marciais e Esportes de Combate. Usado por praticantes do mundo inteiro como um código de conduta com base na postura Samurai, o guerreiro exemplo. Mas será que essa conduta de fato existiu? O código realmente era praticado? Vamos a explicação.

A palavra Bushido vem de “bushi – guerreiro” e “Do – caminho”, portanto, O Caminho do Guerreiro. 

Para entender o Bushido é preciso entender a história samurai no Japão feudal. A figura que todos conhecem do guerreiro de armadura e espada caiu em desuso no século XVII, ou seja, o temido guerreiro tinha essa figura apenas antes do ano 1600.

Símbolo da família Minamoto

Portanto a nossa história começa durante o chamando período Kamakura (1192–1333), este período foi considerado o primeiro regime militar japonês, chamado de Xogunato ou “bakufu” em japonês antigo. Controlado pelo clã Minamoto na cidade de Kamakura, o governo Imperial se tornou apenas uma figura simbólica, mas ainda sim muito respeitada. O controle do país estava nas mãos do Xogum Minamoto no Yoritomo, o líder militar, e assim começava a ascensão samurai na história.

Retrato de samurais reais

Ao longo dos anos, os samurais foram ganhando espaço e, no século X foi oficializado o termo “samurai”, que em tradução livre quer dizer “aquele que serve”. No século XII, a classe samurai foi oficialmente reconhecida como casta social. Que passou a ocupar o topo da hierarquia social japonesa, embora não fosse a mais rica, haviam poucos samurais abastados.

Esse conceito de Samurais “ricos” é apenas cinematográfica, boa parte da classe possuía apenas o básico, a intenção dos senhores feudais era manter os guerreiros fiéis a seus postos, caso eles se tornassem ricos, eles poderiam simplesmente abandonar sua função e se tornar um senhor feudal também.  Portanto havia sim um controle rígido a respeito de suas posses e compromissos.

Samurai no período Kamakura

PERÍODO SENGOKU JIDAI

O período Sengoku é o mais famoso e mais sangrento período da história samurai. Ele durou de 1467 a 1615. Após o Xogunato Kamakura, o clã Ashikaga toma o poder (1336 – 1573), e governa até explodir a Guerra Onin em 1467, a guerra era para decidir quem iria assumir o posto de Xogum.

Essa disputa deu inicio ao período Sengoku Jidai, a guerra civil entre os estados japoneses pelo poder. Foram 133 anos de guerras civis entre senhores feudais, surgimento e destruição de clãs e famílias, até a batalha de Sekigahara em 1600 colocando um fim a esse período.

As guerras civis japonesas – Sengoku Jidai

 

PERIODO TOKUGAWA OU PERÍODO EDO

Estátua de Tokugawa Ieyasu

A batalha de Sekigahara definiu a história do Japão e da classe samurai. Mas antes é importante entender que um dos maiores samurais que o Japão teve chama-se Oda Nobunaga, ele começou a unificar o Japão em 1559. Porem em 1582 Nobunaga é assassinato por seu principal general, Akechi Mitsuhide (os motivos do assassinato são discutidos até hoje), mas outro general de Nobunaga, toyotomi Hideyoshi de forma muito rápida destruiu a tentativa de Akechi de golpe e assumiu o poder.

Após a morte de Hideyoshi, o País voltou a perigar outra guerra civil, para assumir seu lugar, seu filho Hideyori seria o novo Xogum, porém Tokugawa Ieyasu rompe sua lealdade ao falecido Toyotomi e declara guerra ao filho hideyori (o motivo seria a origem camponesa da família Toyotomi, sendo assim, eles não poderiam assumir o governo).

Em 1600 é realizada a batalha de Sekigahara entre o clã Toyotomi e Clãs aliados contra o clã Tokugawa, a batalha termina com milhares de mortes e a vitória de Tokugawa, dando inicio ao ultimo Xogunato do Japão, o Xogunato Tokugawa.

Símbolo da família tokugawa

Neste período a classe samurai se torna uma classe social de alto prestigio, somente samurais poderiam andar com duas espadas na cintura, porém o período de guerra havia terminado. Os samurais durante esse período se dedicaram as artes, poesia, pintura, artesanato, cerimonia do chá e meditação. O Xogunato teve fim em 1867 dando inicio a era moderna no Japão e extinção da classe samurai.

O CÓDIGO DO GUERREIRO

Durante todos os períodos citados acima, o samurai tinha uma função e uma postura. O maior símbolo do guerreiro, a espada japonesa (katana) de fato não era sua arma principal, durante todo o período Kamakura e Songoku Jidai, samurais eram na verdade soldados de montaria, usando arco, flecha e lança para o combate. A espada era seu ultimo recurso em um combate corpo a corpo.

A espada se tornou um objeto exclusivo dos samurais após 1588 quando o Xogum Toyotomi tornou proibido o uso de armas brancas e espadas por civis, tornando apenas a classe samurai o direito de portar espadas. O conjunto de 2 espadas era chamado de Daishô, ou “grande e pequeno”, de uso exclusivo de samurais.

samurai do período Edo (Xogunato Tokugawa)

Portando não havia um código escrito a respeito da conduta de um guerreiro, pois em cada período sua função era modificada. De soldados em campo de batalha a homens de classe social privilegiada, os samurais se baseavam muito nos ensinamentos do Zen Budismo e do Confucionismo, porém durante boa parte dos conflitos armados a questão de honra e fidelidade não era um ponto rígido, mas sim algo flexível.

Oda Nobunaga foi assassinado por um dos homens que mais confiava, Tokugawa quebrou sua promessa com o clã Toyotomi que terminou apenas na batalha de Sekigahara, e em 1615 o castelo do clã Toyotomi foi destruído pelas forças do Xogum.

A régua moral dos Samurais mudou ao longo das gerações, guerras pelo poder, a destruição de clãs e famílias, é impossível usar nossa noção moderna para julgar períodos de guerras tão violentos.

HAGAKURE – O LIVRO

capa do livro na versão americana

A última guerra registrada durante o período Edo foi em 1638 na batalha de Shimabara, após a tentativa de rebelião falhar, o Japão passou por quase 200 anos de paz, ou seja, a figura militar do Samurai já não era mais necessária.

O Hagakure (Escondido pelas Folhas ou Folhas Escondidas 葉隱 ou 葉隠) foi escrito por Yamamoto Tsunetomo nascido em 1659, ou seja, quando a Era dos guerreiros já havia passado. Hagakure foi escrito entre os anos 1709 a 1716 resultado de conversas entre Tsunetomo e um samurai mais jovem.

Tsunetomo não viveu o auge da classe samurai, na verdade ele percorre no livro cerca de 13 mil sentenças sobre honra, postura, budismo e até os modos corretos da cerimonia do chá. (você pode comprar o livro em português na Amazon).

De fato, o livro é uma crítica ao status do samurai no período Edo, acomodado, longe da guerra, uma figura que apenas se apoia no luxo e não mais nos preceitos guerreiros. Porém o livro ao longo do tempo sofreu diversas criticas ao romantizar a figura samurai. Tudo que é mencionado no livro é considerado romantizado e não preciso historicamente falando.

NITOBE INAZO

Capa original do livro: Bushido a Alma do Japão

Nitobe nasceu em 1864, ou seja, com 3 anos de idade viu a queda do Xogunato Tokugawa e o nascimento da era moderna no Japão. Com a queda do Xogum o período Samurai chegava ao seu fim, o porte espadas estava proibido e a classe social extinta.

Nitobe Inazo foi um escritor, político, educador e diplomata no Japão. Porem seu trabalho mais famoso é o livro “Bushido: A alma do Japão” escrito em 1900. Este trabalho ficou famoso por sua tradução para o inglês na mesma época, levando ao ocidente os pensamentos sobre honra e dever de um guerreiro. O livro foi lido por Presidentes como Theodore Roosevelt, John F. Kennedy e Robert Baden-Powell (fundador dos Escoteiros). Porém mais uma vez o livro e seu autor estão afastados dos tempos áureos dos samurais.

Nitobe viveu a ocidentalização do Japão, um processo muito criticado e delicado, onde a cultura nipônica estava sendo apagada para se por no lugar a cultura do ocidente. Esse choque cultural causou muita revolta dentro da comunidade japonesa e até hoje é um assunto delicado.

 A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL E A NECESSIDADE DO CÓDIGO

Pilotos da Força Aérea Imperial japonesa com espadas (Katana)

Durante a segunda guerra mundial, o Japão utilizou a figura do samurai como objeto do soldado ideal para motivar suas tropas. Soldados utilizavam espadas japonesas na cintura como símbolo do guerreiro. Assim surgiu os pilotos Kamikazes. O termo significa “vento divino”, e se tornaram pilotos que cometiam suicídio jogando os próprios aviões em navios e construções que abrigavam americanos.

Com a rendição do Japão ao final da guerra em 1945, cerca de 5 mil espadas foram confiscadas pelo exercito americano. Ao longo do tempo parte delas foram devolvidas aos japoneses. Algumas espadas era relíquias de família, criadas durante o real período samurai, muitas estão a venda, outras em museus.

CONCLUSÃO FINAL

  • O chamado Bushido, o código do guerreiro jamais foi escrito. Ele de fato foi um senso não escrito de conduta e postura que mudava ao longo da jornada do samurai durante os períodos de guerra. Samurais não eram guerreiros da mais alta pureza, mas sim pessoas normais que lutavam por suas ideias e serviam a seu senhor.
  • Apesar de ser uma classe de prestigio, em sua grande maioria eram pobres, essa condição era imposta muito por medo de samurais ricos se voltarem contra seus senhores feudais.
  • Os livros citados acima são ótimas leituras, porém tendo em mente que são ideias romantizadas de tempos de muita violência e guerra pelo poder.
  • O Bushido foi usado durante a 2ª guerra Mundial para inflar o espirito japonês, principalmente de seus soldados para o combate contra os aliados.
  • Interpretações modernas criaram ideias do Bushido que não eram aplicadas em tempos de guerra. Muita traição e assassinato ocorria durante o Sengoku Jidai para afirmar preceitos de honra e lealdade.
  • Mas o código expressa sim uma virtude que se busca no guerreiro ideal e deve servir de norte aos que buscam o caminho do guerreiro.

 

Esta matéria é um recorte de uma história de 600 anos, complexa politicamente falando, com forte base religiosa e conceitos que para os ocidentais o entendimento é ainda raso. 

 

Quem publicou?

Tiago Simão

Editor Chefe Acervo Thai Brasil, fundador da revista Muaythai Em Foco e apresentador do Podcast Muaythai Debate. Trabalha na área de Marketing do setor da construção civil.
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