A postagem dessa semana do Léo Amendoim foi sobre os apostadores e sua importância no esporte.
Há tempos atrás, o Acervo Thai também publicou uma matéria com tradução minha e adaptação do Raphael Ribeiro sobre a relevância dos pontos nas lutas que também citava os apostadores.
Muito já foi dito, e não pretendo alastrar tão mais esse assunto, mas fiquei com vontade de relatar parte da minha experiência nos estádios de muay thai na Tailândia.
Já começo dizendo que não vou falar sobre as lutas em si. Vou falar sobre algo que não pude saber simplesmente assistindo às lutas pelo youtube.
A primeira vez que eu fui ao Lumpinee, eu e mais 3 amigos brasileiros compramos ingressos para o ringside. Lembro que conseguimos de 2.000 bahts por 1.800,00. Na época dava em torno de R$150,00.
Os meninos acharam caro, mas eu não queria nem saber. Tudo o que eu queria era conhecer esses lugares. Mas de fato, assistir às lutas nesses estádios não é barato.
Chegamos atrasados. Quem não conhece Bangkok talvez não consiga imaginar o trânsito e que a cidade é realmente enorme. Para vocês terem uma ideia, ficamos cerca de 3 horas num táxi para chegar da Khaosan Rd, onde estávamos hospedados.
Ao chegarmos, vimos na bilheteria que tinham várias opções de ingressos. Inclusive muito mais baratos que o nossos, tipo uns 200 bahts, mas nem fomos olhar com mais cuidado porque já tínhamos pago e não queríamos constatar que poderíamos ter desembolsado menos.
Bom, fomos recebidos por uma mulher da empresa que compramos o ingresso e encaminhados para o nosso lugar. Tudo lindo, segunda fileira, com serviço de bar… até que sentei e olhei para a arquibancada.
Quando vi toda a movimentação dos tailandeses, deixei escapar:
– Ah, era ali que eu queria estar…
Segue o vídeo que meu amigo gravou no dia:
Vídeo gravado pelo meu amigo Sérgio Saribera
Os torcedores vibravam, gritavam, faziam gestos com as mãos, parecia uma festa. E olha que nesse dia o Lumpinee nem estava cheio.
Encontrei o Paulo Kawai, representante da World Professional Muay Thai Federation no Brasil, e conversamos sobre o assunto. Foi aí que soube que todos eram apostadores e que são as apostas que, no fundo, financiam o esporte.
Na semana seguinte voltei ao Lumpinee. A maioria das lutas eram de campeões e por conta disso o estádio estava bem cheio. Até o Saenchai estava ali do meu lado vendo as lutas.
O ingresso para esse dia estava bem mais caro. Ainda consegui um desconto de 3.000 bahts por 2.400 porque fui com um dos organizadores do evento (que aliás perdeu 15.000 bahts em apostas nesse mesmo dia).
Ingressos caros e apostadores na arquibancada não são exclusividades do Lumpinee. “Same same” no Rajadamnern Stadium.
Nestes dois estádios de Bangkok, na verdade, não me deram escolha de qual setor comprar, só ringside com os preços mais altos.
Uma australiana que treinou comigo no Sitsongpeenong me disse que os farangs não podem estar nas arquibancadas. Não sei muito bem como funciona. Li também que cada setor abriga um tipo de apostador, os que apostam menos ficam mais longe, e os que apostam mais alto ficam no “anel” inferior.
Depois que deixei Bangkok, fui treinar em Koh Samui. Na praia de Chaweng existem 2 estádios: o Chaweng Stadium e o Phetchbuncha. Eu só frequentei este último.
Lá os estrangeiros tinham escolha de qual setor comprar, mas havia uma parte da arquibancada com o seguinte dizer: “THAI ONLY”. Apenas tailandeses e com certeza todos ou a grande maioria eram apostadores, em uma das vezes que eu fui, assisti a luta de lá acompanhando alguns thais. Mas este lugar era cerca (na minha memória) de apenas 10% da capacidade total do estádio. No resto do estádio, sempre lotado, só gringo.
Ou seja, poucos thais e os que vão, vão para apostar.
Eu ouvia que o muay thai é o esporte nacional da Tailândia e sempre pensava que era como o futebol é para o Brasil. Mas foi nesse momento que eu me dei conta que talvez não seja exatamente a mesma coisa…
Se quiser saber mais sobre estádios, clique aqui para uma matéria bem bacana do Acervo Thai.
🙂
Um beijo,
Japa.