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Por que treinadores de Muaythai devem evitar divulgar o Lethwei no Brasil

Os riscos de associar-se a um esporte controverso que reflete tensões étnicas, políticas e valores opostos aos do Muaythai

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Publicado em 11/01/2025

O Muaythai, amplamente reconhecido como um esporte de combate, seguro e profissional, vem conquistando um espaço sólido no Brasil, sendo promovido por treinadores que valorizam a ética e a evolução do mesmo. Contudo, a tentativa de divulgar o Lethwei no Brasil para praticantes de Muaythai, pode gerar sérios impactos negativos, não apenas para os praticantes, mas também para a imagem dos profissionais envolvidos.

O Lethwei não é apenas um esporte, mas também carrega implicações culturais e históricas que podem ser problemáticas. Enquanto o Muaythai segue uma trajetória de profissionalização e inclusão, o Lethwei reflete divisões étnicas e culturais do Myanmar, além de práticas perigosas e falta de estrutura. Aqui estão os principais motivos pelos quais treinadores de Muaythai devem evitar associar-se ao Lethwei:

Conflitos Étnicos e o Contexto do Lethwei no Myanmar

Myanmar é um país com uma diversidade étnica impressionante, composto por mais de 135 grupos étnicos oficiais. Entre eles, destacam-se:

1.Bamar: Grupo majoritário, responsável por cerca de 68% da população, domina o governo, forças armadas e a maior parte cultura nacional, incluindo a promoção do Lethwei como “arte marcial nacional”.
2.Karen: Grupo minoritário que luta há décadas por autonomia, com uma cultura distinta e tradições próprias.
3.Kachin: Comunidade cristã no norte de Myanmar, frequentemente em conflito com o governo central.
4.Shan: Localizados no leste, possuem uma rica cultura e tradição marcial independente.
5.Mon: Historicamente influentes, os Mon também possuem práticas culturais distintas.
6.Rohingya: Grupo muçulmano que não são reconhecidos como cidadãos pelo governo de Myanmar, enfrentam perseguição severa.

O Lethwei, promovido como símbolo nacional pelo governo central, é visto como uma expressão cultural do grupo Bamar, o que gera resistência entre as minorias étnicas, que já enfrentam marginalização e repressão. Assim, o Lethwei não representa a diversidade de Myanmar como um todo, mas sim uma ferramenta de dominação cultural, usada pelo regime para reforçar sua identidade nacionalista.

Impactos do Lethwei Fora de Myanmar

Além de estar profundamente enraizado em um contexto étnico e político controverso dentro de Myanmar, o Lethwei enfrenta inúmeros desafios para ser praticado ou divulgado fora do país, especialmente em lugares como o Brasil, onde o Muaythai e outras modalidades já possuem uma base sólida, com ampla aceitação cultural e reconhecimento esportivo.

Enquanto o Muaythai evoluiu para se tornar um esporte técnico e profissional, com regras bem mais estabelecidas que garantem a segurança dos atletas, o Lethwei se apresenta como uma modalidade perigosa, carente de regulamentações globais e com uma imagem de brutalidade que não se alinha aos esforços modernos por inclusão, ética, profissionalismo e acima de tudo um negócio próspero.

A Dificuldade de Transcender seu Contexto Étnico e Cultural

O Lethwei é frequentemente promovido pelo grupo majoritário Bamar como um símbolo de identidade nacional. Essa visão unificada não representa os interesses ou valores dos muitos grupos étnicos minoritários de Myanmar, como os Karen, Kachin, Shan, e Mon, que possuem suas próprias tradições culturais e frequentemente rejeitam práticas impostas pelo governo central.

Ao ser promovido fora de Myanmar, o Lethwei carrega consigo essas tensões, tornando-se um esporte associado a divisões internas e à repressão política. Para um país como o Brasil, que busca construir uma comunidade de esportiva e de artes marciais baseada em inclusão e respeito às diversas tradições, a adoção de um esporte ligado a conflitos étnicos pode gerar controvérsias e alienar parte dos praticantes.

Contraste com os Valores do Muaythai

O Muaythai, com décadas de desenvolvimento global, é amplamente reconhecido como um esporte de combate que equilibra técnica, segurança e profissionalismo. Ele possui regras claras, proteção para os lutadores e uma pontuação baseada em habilidades técnicas e estratégias.

O Lethwei, por outro lado, é caracterizado por práticas que priorizam a brutalidade, como o uso de cabeçadas e a ausência de luvas e proteção, além de regras pouco estruturadas. Promover o Lethwei em países onde o Muaythai já está estabelecido como uma prática técnica e respeitável cria um contraste negativo, colocando em risco a percepção pública da comunidade em frente ao treinador que busca divulgar essa modalidade.

Incompatibilidade com as Normas de Inclusão e Ética no Brasil

A exclusão de mulheres no Lethwei, que historicamente limitou sua participação, entra em conflito com o esforço global de tornar os esportes de combate e as artes marciais acessíveis a todos. Além disso, a associação do Lethwei ao regime militar de Myanmar e ao uso político de práticas culturais pode gerar questionamentos éticos, especialmente em comunidades que valorizam a transparência e o respeito às tradições culturais. Atualmente, entende-se que, independentemente de gênero, o esporte, seja no âmbito de treino ou competição, deve ser para todos.

Motivos para treinadores de Muaythai evitarem o Lethwei no Brasil

1. Falta de Proteção e Equipamentos

A ausência de luvas e outros equipamentos de proteção coloca os alunos em risco extremo, com alto índice de lesões graves.

2. Altíssimo Risco de Lesões

O uso de cabeçadas no Lethwei eleva significativamente as chances de concussões e danos cerebrais permanentes, criando um risco sério e inaceitável para a saúde física e mental dos praticantes. Esse tipo de golpe, além de ser extremamente agressivo, expõe os alunos a traumas cranianos que podem ter consequências irreversíveis, como problemas cognitivos, perda de memória e dificuldades motoras a longo prazo. A prática contínua de movimentos tão perigosos não só coloca em perigo imediato os participantes, mas também pode comprometer sua qualidade de vida no futuro. Para alunos que buscam esportes de combate e artes marciais como uma forma de melhorar a saúde e o bem-estar, a inclusão de técnicas tão arriscadas vai contra os princípios de segurança e cuidado necessários em qualquer modalidade.

3. Regras de Segurança Insuficientes

Com seu foco exclusivo no nocaute, o Lethwei negligencia medidas fundamentais de segurança, expondo os praticantes a riscos desnecessários e severos. Essa abordagem não apenas coloca a integridade física dos lutadores em perigo, mas também contraria os princípios de ética esportiva, que visam proteger os atletas e promover práticas responsáveis dentro das artes marciais.

5. Falta de Reconhecimento Internacional

Sem uma governança global, o Lethwei não possui regulamentações que garantam sua prática segura, afastando patrocinadores e reconhecimento.

6. Impacto Negativo na Saúde

Como também já mencionado, a prática contínua de golpes perigosos, como cabeçadas e movimentos sem proteção adequada, compromete gravemente a saúde a longo prazo dos alunos. Essa abordagem vai contra os princípios fundamentais de cuidado, segurança e bem-estar que são promovidos pelo Muaythai qaue hoje trabalha com duas frentes, sendo o profissioanl e o amador, se tornando um esporte que valoriza a integridade física e mental de seus praticantes.

7. Conflito Ético

Promover o Lethwei pode ser interpretado como um alinhamento indireto ao regime militar de Myanmar, que historicamente utiliza o esporte como ferramenta de propaganda para reforçar divisões étnicas, consolidar sua hegemonia e perpetuar a repressão cultural sobre minorias. Essa associação levanta sérias questões éticas, especialmente em contextos que valorizam o respeito à diversidade e à justiça social.

8. Imagem Violenta

Associar-se ao Lethwei prejudica a imagem que treinadores e lutadores vêm construindo no Brasil sobre o Muaythai como um esporte técnico, seguro e respeitável. Essa associação pode confundir o público, dificultando a compreensão das diferenças fundamentais entre as duas modalidades. Em outras palavras, um treinador bem-sucedido no Muaythai não deve dividir seus esforços promovendo práticas tão opostas, pois isso compromete a credibilidade e o foco necessário para fortalecer ainda mais o seu trabalho profissioanal.

9. Exclusão de Mulheres

Como já mencionado anteriormente, historicamente, o Lethwei excluiu a participação feminina, perpetuando uma visão limitada e segregadora. Em contraste, o Muaythai destaca-se como uma modalidade que promove a igualdade de gênero, incentivando e acolhendo a participação de mulheres tanto em treinamentos quanto em competições, refletindo os valores modernos de inclusão e acessibilidade no esporte.

10. Potencial para Danos Reputacionais

Treinadores que optam por promover o Lethwei comprometem seriamente sua credibilidade, arriscando alienar alunos, patrocinadores e comunidade que valorizam práticas esportivas éticas, seguras e alinhadas aos padrões internacionais. Essa associação pode prejudicar sua reputação como profissionais comprometidos com o avanço e a profissionalização dos esportes de combate e artes marciais.

Conclusão

A divulgação do Lethwei no Brasil por treinadores de Muaythai é um erro estratégico e ético. Ao se associarem a um esporte que reflete divisões étnicas internas do Myanmar e práticas que vão contra a segurança e profissionalização, treinadores arriscam não apenas sua reputação, mas também a evolução do Muaythai como um esporte de combate respeitável.

O Lethwei não representa os valores de inclusão, técnica e segurança que a comunidade do Muaythai vem construindo no Brasil e no mundo. Além disso, sua ligação com o grupo Bamar e o regime militar de Myanmar levanta questões éticas profundas que devem ser consideradas. Para treinadores comprometidos com o futuro do Muaythai, é essencial concentrar seus esforços em fortalecer a modalidade que já possui um legado sólido e respeitado.

Diferentemente do Muaythai, que conta com uma rica história de brasileiros que viajaram até a Tailândia para aprender diretamente na origem, respeitando as tradições e o contexto cultural, o Lethwei, é divulgado no Brasil por pessoas que não tiveram contato direto com Myanmar. Muitas dessas pessoas nunca visitaram o país para entender a fundo a modalidade, suas raízes culturais ou os complexos problemas sociais e políticos que a envolvem. Além disso, observa-se uma tendência preocupante de misturar o Lethwei com outras práticas, como defesa pessoal e Krav Maga, diluindo ainda mais sua essência e criando uma versão desconectada da verdadeira modalidade. Essa abordagem não apenas enfraquece a legitimidade do Lethwei, mas também perpetua uma visão distorcida, afastando-a de suas tradições autênticas e desrespeitando sua história.

Quem publicou?

Rapha Ribrodi

Administrador & Fundador do AcervoThai, ex-lutador profissional, desenvolvedor web e consultor de dados. Migrou para a Tailândia em 2012, morou em Bangkok, Phuket, Ubon Ratchathani, Chiang Mai e Pattaya. Com mais de 10 anos no país de origem do Muay Thai, Raphael lutou nos principais estádios e eventos na Tailândia. Com mais de 60 lutas pela Ásia, ele se dedica a divulgar o esporte no Brasil, para ajudar a nova geração de lutadores brasileiros.
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